JEFERSON MIOLA -
A antecipação forçada do julgamento do
ex-presidente Lula pelo Tribunal Regional Federal [TRF4] é um movimento tático
que poderá definir a dinâmica política do próximo período.
O objetivo estratégico da oligarquia golpista é evitar a vitória do
Lula no pleito de 2018 a qualquer custo, porque a eleição dele poria fim ao
golpe e ao regime de exceção.
O golpe, com sua selvagem agenda anti-povo e anti-nação, não foi
empreendido para durar pouco tempo; ainda resta muito para colonizar e pilhar
por completo o país.
Todas as alternativas eleitorais testadas pelo establishment para
continuar o golpe mostraram-se, todavia, infrutíferas.
Nenhuma candidatura mostra-se capaz de derrotar Lula se a eleição de
2018 for limpa e democrática e transcorrer no marco de verdadeira legalidade.
Testaram tudo, e nada surtiu efeito favorável aos seus objetivos: desde
figuras burlescas como Luciano Huck e João Dória, até personagens manjados da
direita, extrema-direita e das linhas-auxiliares do reacionarismo – Alckmin,
Bolsonaro, Marina etc.
Todas as pesquisas eleitorais confirmam a hipótese de eleição do Lula já
no primeiro turno. Quanto mais a Rede Globo e a Lava Jato o agridem, e quanto
mais cristalinos ficam os terríveis prejuízos do golpe, maior é a esperança
popular no retorno do Lula para salvar o Brasil.
Ante a inexistência de opção legal e eleitoral do bloco dominante para
continuar o golpe e o regime de exceção, a oligarquia decidiu partir para a
fase 2 do golpe, com a impugnação da candidatura presidencial do Lula.
Em 1871, diante dos avanços da Comuna de Paris, o então
primeiro-ministro de Luiz Bonaparte, Odilon Barrot, declarou guerra à
insurgência popular e ao avanço daquela pioneira experiência de organização
comunal.
Para aniquilar a Comuna de Paris, o liberal-burguês Odilon Barrot não
hesitou em declarar que “a legalidade nos mata!”.
Fez isso para justificar o uso de dispositivos inexistentes na
Constituição da França para atacar ilegitimamente o povo organizado em
barricadas e destruir a primeira experiência de organização social comunista e
auto-gestionária da história.
Era preciso, na visão de Barrot e da classe burguesa
francesa, empregar todos os meios ilegais para asfixiar a soberania
popular e destruir a revolta social. Mesmo que para isso fosse necessário
infringir as normas do Estado de Direito liberal-burguês, instituídas por ela
própria, a burguesia nascente.
A democracia, como se vê, tem valor meramente formal e circunstancial
para a burguesia, uma classe atavicamente golpista quando sente ameaçados seus
interesses; ao passo que, para a esquerda, a democracia é um valor estratégico,
é a base constitutiva para o convívio humano livre, plural e civilizado.
Com o banimento do Lula da eleição de 2018, a oligarquia golpista aposta
que não deverá haver comoção social ou revolta popular diante da brutalidade
jurídica desfechada contra o maior líder popular da história do Brasil.
É uma aposta arriscada que, de qualquer modo, encontra na literatura
sociológica e antropológica do Brasil fundamentos que amparam esta tranquilidade
criminosa dos dominadores.
O povo argentino, mobilizado nos últimos dias contra a tentativa de
reforma previdenciária do também ultra-neoliberal e pró-capitais Maurício
Macri, gritava: “Isto aqui não é o Brasil!”.
Já é passada a hora do povo brasileiro ser menos cordial, menos gentil e
menos educado com a selvageria desta classe dominante canalha e escrava dos
interesses das metrópoles estrangeiras.



