19.7.17

ENTREVISTA – “O GOVERNO ESTÁ CUTUCANDO A ONÇA COM VARA CURTA, E TERÁ TROCO” EUSÉBIO PINTO NETO, PRESIDENTE DA FENEPOSPETRO E SINPOSPETRO-RJ [VÍDEO]

DANIEL MAZOLA -


Com as novas mudanças anti-trabalhador aprovada no Senado, denominada "reforma trabalhista", passaremos a viver um capitalismo sem direito do trabalho, leia-se: barbárie! Diante do gravíssimo quadro e atrás de respostas, fui ao encontro do lutador Eusébio Pinto Neto (foto), presidente da FENEPOSPETRO e do SINPOSPETRO-RJ, vice-presidente da Força Sindical no Estado do Rio de Janeiro.

O dirigente representa 500 mil trabalhadores em postos de combustíveis no Brasil, e jamais perdeu seu contato com a base, diariamente conversa com os frentistas sobre as lutas e demandas da categoria e os rumos da política nacional. “Diante da situação que está colocada, o movimento sindical terá que se reinventar. Agora temos um período de quatro meses para entrar em vigor essa nova lei que foi sancionada, e temos a possibilidade de uma regulamentação de medidas provisórias que estão sendo negociadas no Congresso para sabermos exatamente como ficará a legislação das leis trabalhistas. O fato é que precisaremos repensar o movimento sindical em toda sua estrutura”, explica Eusébio P. Neto.

Segundo o sindicalista vendeu-se muito através da chamada “grande imprensa” a ideia que o imposto sindical tira dinheiro do trabalhador, “mas a verdade é que retirando o imposto sindical retira-se o pilar da unicidade, da estrutura sindical brasileira, retirando esse imposto desmonta esse modelo, (...) estão impondo o novo modelo apenas para contemplar os empresários, sem debater, só para atender o setor patronal, modelo criado dentro da CNI. É praticamente a volta da escravidão, em alguns casos os trabalhadores não terão representação de nenhum sindicato, ficarão totalmente fragilizados, tendo que negociar sozinho com o  patrão. Isso em um país como o nosso, com cultura empresarial escravagista, onde temos empresários egoístas, oportunistas e imediatistas (pelo lucro). No setor dos postos de combustíveis a maioria dos patrões é retrógrada, não tem compromisso com o ser humano, só visam os lucros. E imaginem então como será na área rural, onde os assassinatos dos que reivindicam seus direitos são comuns”.

“O poder do capital articulado, venceu os trabalhadores no Congresso Nacional (...), é hora de aprendizado, a população precisa refletir em quem votar ano que vêm, escolher melhor seus representantes, principalmente no Congresso. Vejo com muita preocupação esse momento, todas as instituições estão desacreditadas, inclusive a mídia, que mente e destorce a realidade para a população, favorecendo os interesses do capital (...). Entendo que é necessário reestruturarmos as instituições e defendo chamarmos uma assembleia nacional constituinte, com pessoas independentes, da sociedade civil, sem mandato político, assim teremos condições de reestruturar o arcabouço jurídico e as instituições. Nosso judiciário não é mais compatível com os interesses do conjunto da sociedade, temos juízes no STF que estão partidarizados, sem falar do Ministério Público e da Polícia Federal, precisamos alterar tudo isso”, frisou Eusébio P. Neto. “Sei que cometemos erros enquanto movimento sindical, mas com empenho e ações vamos resistir (...). Precisamos investir nas bases e estimular a consciência de classe dos trabalhadores, mostrar de forma didática a realidade social e a necessidade de mudanças, que só ele, trabalhador, será o protagonista dessas mudanças para melhoria da qualidade de vida”, conclui.

Eusébio P. Neto questiona como o trabalhador vai cobrar dos patrões seus direitos sem uma organização sindical forte? “Como o movimento sindical vai viver só de contribuição dos associados, isso em um país onde todos vivem dos impostos, inclusive o patronal com o chamado sistema “S”, que leva o dinheiro do trabalhador via imposto”. O presidente também lembrou que atualmente os sindicatos são grandes empregadores. “Temos conosco profissionais da saúde, dentistas, advogados, assessores, enfim, isso também vai gerar graves consequências na empregabilidade”.

Por fim, Eusébio P. Neto alerta os empregados em postos de combustíveis para que não desanimem. “Com toda adversidade nós vamos lutar! O momento é oportuno para escrevermos nossa história, como protagonistas, com muita determinação podemos construir um país mais justo. Com o povo vendo e sofrendo a dura realidade, vai ocorrer uma reação que poderá sim fazer uma transformação positiva, o governo agindo dessa forma está ‘cutucando a onça com vara curta’, e terá troco. Eu aposto na organização da classe trabalhadora, da reação da sociedade brasileira em defesa da sua soberania, da liberdade, em defesa da vida, para consolidarmos nossa democracia. O chamamento é em defesa da união para fazermos as verdadeiras transformações desse país. Vamos à Luta!”. 

Confira a íntegra da entrevista:

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