19.7.17

A COMILANÇA AO ESTILO REFINADO DE TEMER

ALCYR CAVALCANTI -


A "Era Temer", que parece não ter mais fim, onde cada dia parece um século tem se caracterizado por uma sucessão de conversas à mesa, uma comilança interminável, desde o início da manhã até o meio da madrugada, tudo em nome da "Democracia de Coalizão", um sortilégio para encobrir a verdadeira finalidade, compra de votos. "La Grande Bouffe" (A Comilança) foi um filme do diretor italiano Marco Ferreri de 1973, que causou muita polemica no Festival de Cannes, onde competia pela Palma de Ouro. Ferreri quis fazer uma crítica ao capitalismo e seus estranhos hábitos, onde a maior parte da população come às pressas, ou passa fome e os detentores das riquezas fazem jantares opíparos, em um desperdício irresponsável. Para alguns analistas é o desespero de quem sabe que sua cabeça está a prêmio e vai rolar a qualquer momento, como dizem nos bares da vida "O Vampiro já era, vai voltar pra tumba". Mas a prática política do Brasil tem desmentido a máxima popular, embora quase 200 milhões de pessoas sonhem com o afastamento do Michel, os "representantes do povo" estão fechados com o "chefe" e as benesses que tem recebido em um processo de barganha.

No Brasil é assim, todo o mundo da política é infiel, não existe a "Fidelidade Partidária".  Compra de votos, distribuição de cargos, emendas (que deveriam se chamar remendas) são feitas em troca de grana, do que no submundo se chama PP pagamento de propina e assim todos os presidentes sem exceção tem se mantido no cargo, independente do partido, que no fundo são quase a mesma coisa. Antônio Gramsci reverenciado pelos utópicos de todo o planeta deve estar se revirando na tumba ao ver como o "arco de alianças" é colocado em prática em nossa terra. De fato é surreal ver declarações de deputados de um partido que se diz socialista, o PSB, migrarem para o DEM, o partido que tem na sua cartilha o velho liberalismo, na pele do neoliberalismo. Cadê a 'Fidelidade Partidária' ???

Michel Temer gosta mesmo é de uma boa mesa, onde a máxima popular "Não existe almoço de graça" é a medida certa. Ele toma café da manhã com um deputado de "esquerda" mas ávido por um dinheirinho e logo depois toma um cafezinho demorado com um da "direita homo fóbica" e vai somando votos. Almoça com deputados da direita, direitíssima e depois come a sobremesa com esquerdistas radicais. E toma voto para engordar sua bolsa. Na pausa um lanchinho com os do chamado centro e logo depois os do "centrão" e toma voto. No meio de tudo isso sua bela esposa dá uma ligadinha pelo what zap e diz, "Querido, amore, te amo", ele sorri envaidecido. Vai caindo a noite no belo por do sol de Brasília, é hora de um drinque, não de carga rápida de um peão com cachaça tipo "Amansa Corno" mas com um whisky doze anos, de preferencia da marca President  , seu preferido e consegue com um deputado mui amigo mais um votinho e uma promessa (se entrar um favorzinho) mais uns três votos. Chega a hora do jantar, opíparo, solene é a "Hora do Lobo" das cartas na mesa, daquilo que os colunistas amestrados e muito bem pagos chamam em outro eufemismo de "jogo de xadrez" , no fundo a simples e direta compra de votos. A maioria absoluta vai sendo conseguida, não podemos negar, com muito, mas muito esforço pois os jantares são demorados, bem servidos e tem de ser bem degustados, mormente para o restrito círculo palaciano que pode desfrutar de tantas iguarias, desde o caviar iraniano até champanhe da melhor safra, e vinhos de Bordeaux ou de safras italianas. Para alguns sonhadores seria o "Ultimo baile da Ilha Fiscal", mas pelo jeito da carruagem, muita comilança está por vir.

Assim é feita a política tupiniquim, assim caminha trôpega e cambaleante a democracia no Brasil, que vai caminhando a passos largos para a falência, lenta, gradual e irrestrita em um Sistema perverso, desigual, cruel e muito distante do espírito de fraternidade, que está a levar a um conflito final á maneira de Hobbes, de todos contra todos, onde não existem nem vencedores nem vencidos, todos saem derrotados.