JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
A Globo manipula a opinião pública mesmo quando diz a verdade. A reportagem do Fantástico de domingo passado sobre a penúria absoluta das entidades científicas brasileiras simula um interesse genuíno por um setor cujo desenvolvimento é crucial para o país. Contudo, não há nenhum esclarecimento sobre a nota sumária com que o Ministério da Ciência e Tecnologia justifica o estrangulamento financeiro da Ciência brasileira: alega-se apenas o enquadramento no corte de despesas públicas determinado pelo Governo federal.
Obviamente que todo brasileiro relativamente informado, e que não forma o exército de idiotas doutrinado diariamente pela Globo, sabe que por trás do corte de despesas públicas, com o suposto objetivo de equilibras as contas governamentais, existe um objetivo mais fundamental, a saber, estrangular o setor público e abrir espaços crescentes para o setor privado, desde as terras da Amazônia à Previdência Social urbana. A canalha, como diria o senador Requião, que tomou o poder de assalto no Brasil não está perdendo tempo em alienar nossa soberania e nossos ativos.
A ordem que vem da infame Ponte para o Futuro é vendei, vendei, vendei. Vendei tudo, inclusive a Petrobrás, de forma fatiada. Toda resistência política a esses assaltos combinados foi neutralizada pela prévia compra do Congresso Nacional, notadamente da Câmara, para efeito do impeachment. Os vigaristas que se locupletaram na adesão ao impeachment de Dilma se consolidaram na base de Temer, igualmente comprada. Aliás, o próprio Globo revelou ontem o custo do resultado na CCJ: nada menos que R$ 15 bilhões.
Não quero fazer julgamentos precipitados, mas se toda a base de Temer fosse corrupta não teria sido necessário substituir nada menos que 13 membros da CCJ para a votação da admissibilidade do processo. Se a manobra sórdida de substituição desses titulares não tivesse sido realizada, o voto previamente anunciado dos 13 membros seria suficiente para a derrota do Governo. Diante disso, o resultado do plenário, onde não há substituição, torna-se incerto, embora sempre dependente da disposição de Temer de comprar mais aliados.
Voltemos à questão da Ciência. O “genial” Meirelles, que governa a economia brasileira com a perícia de um contador de segunda categoria, cortou os investimentos na área científica de R$ 16 bilhões para R$ 8 bilhões. Ora, isso é cerca de metade do que Temer gastou comprando consciências na CCJ da Câmara. Esse dinheiro, R$ 15 bilhões segundo O Globo, se destina a obras de duvidosa prioridade, nenhuma delas sendo, provavelmente, de caráter estruturante. Numa palavra, obras eleitoreiras. Se não houvesse por trás dessa política um objetivo de liquidação da soberania nacional poderíamos questionar a lógica do processo. No fundo, é inútil.
O mais extraordinário disse tudo é como o marajá das Finanças, Meirelles, paladino do equilíbrio fiscal, vai encaixar o dinheiro da propina institucionalizada que Temer prometeu aos deputados da CCJ no enquadramento da emenda 95 de congelamento dos gastos públicos. Aparentemente, só tem três caminhos: trair a promessa feita aos deputados; violar a lei de congelamento de gastos públicos que ele próprio criou, ou estabelecer uma versão nova de pedalada fiscal que faça o que Dilma não fez, ou seja, agora um verdadeiro crime fiscal.