Por KIKO NOGUEIRA - Via DCM -
Num Brasil que virou de cabeça para baixo, Regina Duarte pode ser considerada a versão mundo bizarro de Meryl Streep.
São ambas atrizes reconhecidas e da mesma geração. Onde a primeira tem uma militância civil reacionária, disposta a qualquer coisa para aparecer, inclusive pegar numa vassoura com um prefeito farsante, a segunda aproveita seu discurso no Globo de Ouro para criticar pontos nevrálgicos da campanha do eleito Donald Trump.
Anunciada pela atriz Viola Davis, Meryl subiu ao palco para receber um prêmio pelo conjunto da obra. Em pouco mais de 5 minutos, fez um paralelo entre a diversidade de seu meio, citando a origem de diversos atores, e a xenofobia de Trump.
“Hollywood está cheia de forasteiros e estrangeiros. Se você expulsá-los, não sobrará nada para assistir a não ser futebol e MMA”, falou.
Lembrou em seguida de um episódio em que Trump imitou de forma grotesca e ofensiva Serge Kovaleski, jornalista do “New York Times” que tem os braços atrofiados e uma limitação dos movimentos na parte superior do seu corpo.
“Esse instinto de humilhar, quando é feito por alguém em uma plataforma pública, por alguém poderoso, impacta negativamente na vida de todo mundo, porque ele dá permissão para que outras pessoas ajam igual. Desrespeito convida ao desrespeito. Violência incita violência. Quando as pessoas poderosas usam sua posição para intimidar alguém, todos nós perdemos.”
Trump respondeu de seu jeito, chamando a intérprete de “superestimada” e “puxa saco de Hillary”. Ela se engajou na disputa presidencial ao lado de Hillary, é verdade — mas e daí?
Meryl e Regina são contemporâneas e viveram, basicamente, as mesmas transformações no mundo, cada uma, evidentemente, em suas circunstâncias. Foram parar, hoje, em polos completamente diferentes em seu posicionamento político.
A ex-Namoradinha do Brasil confessou em 2002 que “tinha medo” de um governo Lula e, desde então, vem numa louca cavalgada reafirmando isso.
Criadora de gado, vai regulamente a encontros de pecuaristas. Participou de comícios contra as demarcações de terras e os povos indígenas e virou garota propaganda da causa.
Em 2009, numa feira do setor no Mato Grosso do Sul, fez uma explanação sobre os conflitos com os guarani cayowaá, atacados por ruralistas.
“Confesso que em Dourados voltei a sentir medo”, afirmou, referindo-se à criação de reservas na região. “O direito à propriedade é inalienável”.
Também participou de protestos na Paulista, tendo certo dia trepado em uma árvore para fazer não se sabe o quê. Foi a favor da extinção do Ministério da Cultura.
O encontro com Doria foi armado, embora ela não admita. Regina é uma figura fácil da extrema direita nativa.
Nunca foi instada a comentar a respeito do golpe que apoiou publicamente e do desastre que é Temer. Se o fosse, seria um desafio ao seu talento.
Se a bandeira é em prol dos de sempre, se for para denunciar o “bolivarianismo”, se for para colocar moradores de rua embaixo de viadutos etc etc — conte com Regina Duarte. Você jamais poderá se surpreender se dia desses ela surgir numa selfie com o Major Olímpio.