Por PAULO NOGUEIRA - Via DCM -
Quem vai pagar a conta da reforma do Alvorada?
É claro que é uma pergunta retórica. O contribuinte vai ficar com a conta.
Mas que se registre: entre tanto disparates de Temer, este é um dos maiores.
Não pela cifra em si. Mas pela simbologia.
Gastar dinheiro com um palácio num momento de crise ululante é coisa de quem não tem noção.
Programas sociais são cortados. Em São Paulo Doria anuncia que vai suspender o leite das crianças nas escolas municipais.
Num olhar para a floresta, são 12 milhões de desempregados no país, parte dos quais já fruto das trapalhadas de Temer.
Para 2017, os prognósticos econômicos oscilam entre ruins e muito ruins.
E em meio a este cenário de caos o governo gasta dinheiro numa reforma palaciana?
Fora tudo, na melhor das hipóteses a família Temer vai ficar menos de dois anos no novo Alvorada.
O episódio lembra a infame reforma que Joaquim Barbosa fez nos quatro banheiros de seu apartamento funcional de presidente do STF ao custo de 90 mil reais.
Isso foi em 2013.
Um ano depois, ele estava fora do STF — e de seus banheiros de luxo.
Desculpe o palavreado vulgar, mas quanto custou cada ida ao banheiro de JB?
Quando parecia que o desatino de JB não poderia ser batido, eis que Marcela e Michel Temer irrompem com o Alvorada.
O desprendimento alegre com que as autoridades brasileiras torram o dinheiro do contribuinte é uma das tragédias nacionais.
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Mino, Roberto Civita e as relações promíscuas entre as empresas jornalísticas e o governo
Li a biografia de Roberto Civita por Carlos Maranhão, algumas semanas atrás.
Li também, mais recentemente, a resposta de Mino na Carta Capital à “hagiografia” de Roberto feita por Maranhão. (A expressão é de Mino.)
Mino estava furioso com o livro pelo motivo de sempre: sua saída da Veja. (Não apenas isso, mas principalmente por isso.)
Mino sustenta que se demitiu. Roberto Civita dizia que mandara embora Mino, e é assim que a história é contada no livro de Maranhão.
Apenas para resgistro: se eu tivesse que apostar numa das versões, ficaria com a de Mino, ainda que sua saída fosse inevitável de um jeito ou de outro. A relação entre Roberto e Mino se deteriorara a tal ponto que os dois não cabiam mais na Abril.
Mino chamara Roberto de cretino numa discussão com Victor Civita. Mais que isso — chamar o primogênito do dono de cretino — só batendo fisicamente, o que quase aconteceu.
Mas de novo. A saída de Mino foi o que menos me impressionou ao ler o livro de Maranhão e a resposta de Mino.
O que me chamou mesmo a atenção foi outra coisa. Eu nunca reparara no papel que tivera no episódio a promiscuidade entre o governo federal e as grandes empresas jornalísticas.
A Abril pedira um empréstimo gigante ao governo na época do conflito entre Mino e Roberto.
O governo não gostava de Mino. Estava claro que as chances de o empréstimo ser liberado eram grandes caso Mino deixasse a Veja e mínimas, ou nulas, se ele permanecesse.
Vamos entender: “empréstimo” do governo para a mídia era força de expressão. O negócio parecia mais doação do que qualquer outra coisa.
Isso quer dizer o seguinte: se o governo gostasse de Mino ele provavelmente estivesse na Veja até hoje. Victor Civita teria encontrado uma forma de afastar o filho Roberto.
Eis uma coisa que jamais me ocorrera.
Na prática, o episódio é uma amostra de como o governo comprou a mídia há muito tempo ao controlar mamatas e privilégios como empréstimos e multimilionárias verbas publicitárias.
Assim se construíram as fabulosas fortunas dos barões da imprensa — e uma das piores mídias do mundo.