Por LÚCIO FLÁVIO PINTO -
Júlio Camargo foi consultor da empreiteira Toyo Setal, integrante do cartel que funcionou junto à Petrobrás, pagando propina para ter contratos com a estatal do petróleo (ou para superfaturá-los). Ao fazer uma das primeiras delações premiadas, em 2014, contando o que sabia como lobista nessas transações, foi multado em 40 milhões de reais pelo juiz Sérgio Moro, da Operação Lava-Jato.
Para quitar a dívida vendeu, por nove milhões de reais, seu barco de 75 pés (dispensando os três marinheiros que o tripulavam), e, por R$ 6 milhões, seu jatinho, um Cessna Citation Excel.
Sem esses luxos, Camargo a morar numa casa no valorizado bairro do Morumbi, em São Paulo, e a frequentar os páreos do Jockey Club, na condição de interessado criador de cavalos, atividade bastante cara.
Seus amigos disseram à Folha de S. Paulo que o lobista vive agora de juros dos negócios que intermediou com a estatal. Não dizem, mas certamente sua maior fonte de renda foi o saldo de pelo menos R$ 266 milhões que teria recebido nas operações ilícitas, segundo as estimativas do grupo de investigação da Lava-Jato.
Ou seja: a multa correspondeu a uma sexta parte do que ele roubou.
Além desse saldo apurado, ao fazer a delação, Júlio Camargo conseguiu que sua condenação, a 14 anos de prisão, fosse comutada para cinco anos em regime aberto, sem tornozeleira eletrônica.
O que leva a conclusão de que o crime valeu a pena?
É preciso fazer uma rigorosa apuração desses acordos para tirar a má impressão – e a moral ruim que fica com gosto de guarda-chuva no paladar da sociedade brasileira.
*Enviado para a redação por Renato Braga da Costa - São Luís/Maranhão.