4.1.17

MEUS INIMIGOS ESTÃO NO PODER

EMANUEL CANCELLA -

Nossos juízes e procuradores querem prender as pessoas sem provas, já na segunda instância. Ao que parece, para matá-las na cadeia, mas não aceitam nem serem punidos por crime de responsabilidade.


Cazuza lançou essa música em 1988, no governo de José Sarney. Aliás, fui demitido na Petrobrás nesse ano por organizar uma greve nacional juntamente com meus companheiros. Na época, eu era da oposição no Sindicato. Fui reintegrado seis meses depois, não pela justiça, mas pela vontade de minha categoria, em outra greve.

Cazuza nos encantou com sua irreverência.  Morreu, como milhares de jovens, da doença do prazer, como ele mesmo falou na música: “O meu prazer agora é risco de vida”. Entretanto suas ideias estão mais vivas do que nunca. Cazuza nos inspirou com essa música e hoje, em 2016, muito mais do que naquela época, os inimigos estão no poder e, pior, através de um golpe.

O governo de FHC aplicou as políticas neoliberais que pregam o estado mínimo e vendeu (ou doou) a maioria de nossas estatais. Mesmo assim, saiu do governo no segundo mandato pegando um empréstimo com o FMI para pagar salário de funcionários, de US$ 40B. E essa Privataria Tucana que virou até livro nunca foi investigada.

Lula chegou ao governo em 2003, desacreditado, seus adversários apostavam no caos, duvidavam que um torneiro mecânico colocasse o Brasil nos eixos. Lula não só pagou a dívida com o FMI como viramos cotistas do Fundo. O governo do PT participou da criação dos BRINCS e do seu banco (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) na direção e como cotista. Assim o Brasil buscava uma alternativa ao eterno lugar de quintal dos EUA, sem romper com eles. Lula tirou o Brasil do mapa da Fome da ONU; 40 milhões de brasileiros da linha da pobreza e criou uma malha de proteção social que serve de modelo no mundo, como Bolsa Família, Bolsa Esporte, esta propiciando a conquista da maioria de nossas medalhas, na última Olímpiadas, no Brasil, em 2016.

Criou o Programa Minha Casa Minha Vida, que realizou o sonho da casa própria a mais de três milhões de famílias de brasileiros. Dilma deu seguimento às políticas de Lula e levou médicos às periferias dos Brasil com o Programa “Mais Médicos”. Através do Fies, Prouni e políticas de cotas, milhões de jovens pobres passavam a entrar nas universidades e alguns foram estudar no exterior, pelo programa Ciência sem Fronteira.

No governo de Lula, a Petrobrás desenvolveu tecnologia inédita no mundo, que permitiu a descoberta do pré-sal. Seus adversários costumam dizer que Lula deu migalhas para os pobres. Acredito também que, além dos pobres, os bancos ganharam muito. Lógico, a economia crescendo os bancos ganham mais. Isso no Brasil e no mundo. Nesses quatros governos do PT se construiu um estado de proteção social que se não era o ideal, mas seria o pontapé inicial.

Lamentavelmente, usando o mote do combate à corrupção para enganar o povo, apoderaram-se do país golpistas exacerbados. Aprovaram a PEC 55, conhecida como Pec da Morte, que congela por 20 anos o orçamento dos Estados, arrasando assim as politicas sociais, principalmente a de saúde e de educação. Estão entregando nosso petróleo, nossos aquíferos e nossas terras a estrangeiros.

Por conta do combate à corrupção, milhões de trabalhadores estão sendo demitidos. Não precisava parar as obras, bastava afastar e até prender os executivos corruptos, mas manter as empresas funcionando, evitando assim demissões e a quebra da economia. Entretanto a operação Lava Jato paralisa empresas e obras, gerando cerca de dois milhões de desempregados e queda de cerca de 5% do PIB.

Falam abertamente em fazer as reformas trabalhistas e previdenciárias para tirar direitos dos trabalhadores. O outro poder, o Judiciário, onde deveriam proteger a sociedade, as maiores autoridades jurídicas do STF e do TST concordam que o negociado prevaleça sobre o legislado. Isso simplesmente quer dizer adeus à CLT e aos direitos consagrados como férias de 30 dias, o 13º e semana de 40 horas trabalhada e outras maldades contra o trabalhador. E estão criando uma fórmula na reforma da previdência que, na pratica, acaba com a aposentadoria do trabalhador.

Assistimos agora a um massacre numa penitenciária de Manaus e o ministro da Justiça diz que é contra separar os presos por facções. Juntando presos, independente de grupos a que pertençam, é como botar cachorros e gatos na jaula do leão. Eles querem prender sem provas e ao que parece matar nas prisões, mas eles, juízes e procuradores, lutam pessoalmente para a lei não os punirem por crime de responsabilidade.

Outro poder, o Congresso Nacional, deixa-nos com saudades dos tempos dos trezentos picaretas, pois hoje tem muito mais.

A mídia brasileira, na prática, o poder maior, hoje controlada por sete famílias apoiou e dá suporte ao golpe, manipulando o povo e mascarando as reformas que destroem o país e nossos direitos. Aliás, a principal delas, a Globo, apoiou o golpe contra o presidente Getúlio Vargas; apoiou e cresceu à sombra da ditadura militar que tirou do governo o presidente eleito pelo povo, João Goulart, e a Globo foi peça central no golpe contra a presidente Dilma.

Cazuza, na música, diz que o seu partido é um coração partido. Neste momento, muito mais do que de partidos precisamos nos unir. Civis, militares, anarquistas, comunistas, estudantes, socialistas e conservadores juntos, para salvar o país desses golpistas, como foi na campanha exitosa do “ O Petróleo é Nosso!”, que resultou na criação da Petrobrás.

Ou fazemos isso ou, como diz a música de Cazuza, os meus (nossos) sonhos foram todos vendidos!

*Emanuel Cancella que é da coordenação do Sindipetro-RJ e da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP)