CARLOS CHAGAS -
A historinha merece ser recontada. Agripino Grieco era e continua sendo o maior crítico literário da língua portuguesa. Durante vinte anos cortava o cabelo num mesmo barbeiro de seu bairro. O “fígaro” tinha pretensões e passou anos pedindo ao cliente para fazer a revisão dos originais de uma obra de sua autoria destinada a suplantar Machado de Assis. Grieco declinava sempre, mas no fim não teve mais desculpas quando o inédito autor pediu-lhe que ao menos sugerisse um título. Aceitou, mas para continuar não lendo o longo manuscrito, indagou:
“O seu romance tem trombones?” “Não” “E trombetas?” “Também não.” “Então aí está o título: Nem trombones nem trombetas...”
Pois é. O presidente Michel Temer continua e permanecerá indeciso até quase o final de seu mandato, sem candidato à própria sucessão. Desconversou quando, semana passada, manteve demoradas conversas, em separado, com Aécio Neves e com Geraldo Alckmin. Não se comprometeu com o senador ou com o governador. Vai uma sugestão. Quando perguntarem, afinal, qual o seu preferido, poderá sugerir a sua preferência: “Nem Aécio nem Geraldo”. Poderá acertar quem responder “José Serra”…
O atual ministro das Relações Exteriores trabalha para não ser ultrapassado pelos dois tucanos. Esboça uma equação capaz de ser costurada acima e além do PSDB, pois também fincada no PMDB, que por sinal não tem candidato. Os dois partidos, se unidos, formariam uma força considerável. Claro que dependendo de uma série de arranjos por enquanto apenas imaginados. Primeiro, que a retomada do crescimento econômico desse certo, coisa que necessitaria da colaboração de Henrique Meirelles, mas jamais a ponto de incluí-lo na lista dos presidenciáveis. Depois, 2017 precisaria ser um ano de conquistas na política externa, setor até agora afastado das preocupações do governo. Haveria, também, o fator Trump, por enquanto desconhecido.
Em suma, a concluir inicialmente está a realidade de que José Serra está no páreo e precisa cultivar o PMDB. Afinal, foi fundador do MDB...