WILSON DE CARVALHO -
Soube apenas anteontem (21), ao chegar à ABI, sem tempo até para piscar os olhos, empenhado que estou em escrever mais dois livros. Com muita tristeza e já uma saudade imensa, pois não tivemos apenas um relacionamento profissional, mas de grandes amigos, identificados, em especial, com a dignidade, o amor ao próximo e à profissão. Em viagens internacionais, saíamos muito juntos.. Quase fomos presos por soldados soviéticos, durante a minha primeira Copa do Mundo, em 74, na Alemanha, durante a qual muito me ensinou, de acordo com uma das marcas de sua personalidade, a generosidade.
Tínhamos saído de Frankfurt para conhecer Berlim e o Muro da Vergonha. Em um trecho da ferrovia, o trem passava pelo lado oriental, dominado pela extinta União Soviética. Enquanto os soldados fortemente armados davam uma geral embaixo do trem com cachorros ferozes, outros agiam dentro dos vagões. Não foi fácil se convencerem que éramos apenas jornalistas cobrindo a Copa do Mundo. “Se não tem nenhum jogo marcado em Berlim, por que a viagem?” perguntaram aos gritos, em inglês.
Apenas uma das muitas histórias inseridas no livro. Pessoas como Pedroza, com defeitos, claro, como todos nós, não poderia morrer sem que tivesse um substituto à altura. Daí eu ter escrito e escolhido o título do livro, não muito comercial, mas que dizia quem realmente foi "o repórter". A vida de Geraldo Vital Pedroza foi linda e o livro mostra. Está nas bibliotecas da ACERJ e da ABI, além da Livraria Folha Seca, na rua do Ouvidor, centro do Rio.
Entre os colegas de profissão, ninguém mais do que eu mantinha contato com Pedroza, nos últimos anos, até ser levado pelo irmão para Ribeirão Preto, depois de uma fratura no fêmur Até aí, mesmo com seus 87 anos, não parava. Caminhando. fazendo compras no Mundial, jogando cartas na Praça Serzedelo Correia, visitando amigos na Ladeira dos Tabajaras, em harmonia com traficantes que o respeitavam, enfim, não se entregava nunca. Até tropeçar na escada do Centro Comercial de Copacabana, e cair, vencido como nunca em sua vida. Sempre rebelde, não obedecia a cuidadora na rigidez dos horários de medicação, o que motivou o irmão a levá-lo para Ribeirão Preto, onde faleceu.
Eu sempre o visitava, especialmente depois de escrever o livro da sua vida. Um livro especial até pelos ensinamentos aos jovens jornalistas e estudantes de comunicação. Perfeccionista como eu, Pedroza reclamou de um erro no livro: o único, disse: "você colocou o nome da minha saudosa esposa com y e não i. Disse-lhe que nome próprio varia e que ele tinha informado ser com y. Como amigo, mandei-o para aquele lugar...Claro que ele devolveu. Nunca deixou de reagir. Brigamos muito durante um ano na produção do livro. No início, ele só admitia falar de futebol, mas eu contestei: jamais. Você tem história em Copacabana, onde vive há 70 anos e no mesmo quarteirão da Siqueira Campos com N.S. Copacabana.
E parti em pesquisa, até por entender que editor e escritor têm que ser também repórter. E acabei descobrindo que Pedroza não parava de homenagear as mulheres com um poema. Uma vez, a felizarda foi uma caixa de supermercado. Fotografei e coloquei no livro. Era o ídolo Pepe. Para muitos, patrimônio de Copacabana. Principalmente na Ladeira dos Tabajaras, onde, nem eu sabia, pois ele não contava, distribuía bicicletas para as crianças que tirassem melhores notas na escola do Morro dos Cabritos. São apenas algumas histórias de um livro que vale a pena ler, pois só perdeu a atualidade na prisão do ex-presidente da CBF, nos EUA, pedida por ele, revoltado com a corrupção no futebol.
A saudade já é enorme, grande amigo. Estou preparando um artigo, síntese do livro, para provar que você, “Pepe”, foi um dos maiores gigantes da imprensa em geral. Eu dizia para os amigos que, após as mortes de Luís Mendes e Armando Nogueira, só restava Geraldo Pedroza entre os monstros sagrados do jornalismo. E você, amigo, como ajudou os companheiros, principalmente iniciantes! E como você transformou o Comitê de Imprensa da CBF, que presidiu por uma década, em uma escola de jornalismo. Investigativo, em especial. Na ACERJ, onde fui seu diretor-administrativo e editor do jornal, também mostrou a marca da dignidade e competência.
Vou parar, pois acabarei escrevendo a segunda edição do livro que já havíamos projetado. Infelizmente, interrompido. Vida que segue e para reforçar tudo o que escrevi sobre este profissional de dez Copas do Mundo, leiam algumas das opiniões inseridas no livro “Pedroza, o repórter”, que pode ser encontrado nas bibliotecas públicas, na ABI, ACERJ, na Livraria Folha Seca, rua do Ouvidor, 37, e no site www.tabacultural.com.br