JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Vladmir Putin deve ter nervos de aço. Graças a isso não precisamos temer uma escalada de provocações entre Estados Unidos e Rússia ao ponto de desembocar numa guerra entre as duas potências que, no limite, poderia arrastar o mundo inteiro. Só com muita paciência uma potência nuclear de primeira linha, como a Rússia, dotada também de exército convencional com capacidade tecnológica para enfrentar qualquer adversário, não alimenta o tipo de escalada de provocações que, no passado, levava a grandes conflitos armados.
A probabilidade de 35 russos terem praticado ataques cibernéticos na nação mais avançada tecnologicamente do mundo com o objetivo de prejudicar Hillary Clinton nas eleições é tão alta quanto a de um degelo no polo norte afogar o resto do mundo. Só vassalos vendidos aos norte-americanos quanto William Waack e a equipe de jornalismo da Globo acreditam nisso. Entretanto, manipulando a grande rede de comunicação que patrocina no mundo inteiro, o grupo de Barak Obama promove essa pantomima provocativa.
É claro que o objetivo não é nada trivial. Os neoliberais/neoconservadores que comandam até o momento a geopolítica norte-americana, e que conquistaram para seu lado o prêmio nobel da paz Barak Obama, se esforçam por todos os meios para arrastar a Rússia a um conflito armado com os EUA, preferivelmente fora do território russo, para afastar de uma vez por todas a sombra de uma potência concorrente ao seu destino manifesto de serem donos do mundo. Até o momento, de forma brilhante, Putin tem escapado dessa armadilha.
Pato manco é o nome que os norte-americanos dão aos presidentes em fim de mandato, no período entre a eleição e a posse do sucessor. Em geral, é um período frio no hemisfério norte. Presume-se, do presidente que sai, uma atitude respeitosa com aquele que entra, facilitando o processo de transição. Obama, ao contrário, tem exagerado nas provocações. Tem tomado atitudes em viagem ou dentro dos EUA para tornar a mais desconfortável possível a passagem de comando, tentando levar Trump às cordas.
Imaginem que este foi o presidente que ganhou, na sua entrada, o Prêmio Nobel da Paz e que, no primeiro de seus discursos para o mundo, prometeu, no Egito, engajar-se no propósito de acabar com as armas nucleares. Talvez o ponto de mutação, conforme me lembrou um amigo, foi a molecagem que fez com o presidente Lula e o premiê turco Erdogan em relação ao acordo nuclear com o Irã: depois de estimular esses dois mandatários a mediar o acordo, e depois que eles conseguiram, simplesmente os desautorizou.
O primeiro presidente negro dos Estados Unidos envergonha sua raça com um governo medíocre do ponto de vista internacional. Reconheço que, internamente, ele enfrentou bem a crise iniciada em 2008 e conseguiu reduzir bastante o desemprego. Para fora, que é o que nos interessa, foi um desastre. Seu pior desempenho é em relação à Rússia, uma potência nuclear de primeira linha que tem todo o empenho em conviver bem com os EUA. Por que, então, a teimosia neoconservadora americana de provocar a Rússia?
Note-se que todos os acordos estratégicos feitos por Gorbachev e Yeltsin para possibilitar a reunificação alemã foram rompidos. A OTAN estabeleceu um cerco crescente em torno da Rússia, expandindo sua presença militar a nove países do Leste Europeu. A Rússia tolerou discretamente, até que os vassalos dos ocidentais tentaram ocupar a Geórgia e a Ucrânia, limítrofes da Rússia. Aí era demais. Putin moveu suas forças para acabar com a dissidência pró-OTAN na Geórgia, favoreceu a virtual divisão da Ucrânia mantendo em sua vizinha a parte russófila e, mestre da estratégia, promoveu a anexação consentida da Crimeia.
O fato é que toda vez que a Rússia se mexeu, reagindo a provocações americanas, ela saiu ganhando. O último ato é o acordo de paz que acaba de ser assinado pelo presidente Assad, da Síria, que a rede Globo, seguindo suas patrocinadoras mentais americanas, insiste em chamar de ditador. Acredito que as provocações vão acabar com a entrada de Trump em cena, numa aliança com Putin para liquidar o Estado Islâmico. O mundo será muito melhor. Depois disso, tenho a impressão de que o prêmio Nobel que Obama ganhou na entrada Trump acabará tomando na saída.