22.9.16

O CIRCO ELEITORAL

ANDRÉ DE PAULA -


Há muito não tenho mais título de eleitor, pois de nada serve tal instrumento. Sendo obrigatório o comparecimento às urnas, pratico a desobediência civil, uma vez que não voto, não justifico, não pago um centavo que seja há várias eleições. São elas, na verdade, uma farsa comandada pelas grandes empresas e pelos capitalistas que as financiam.

Depois de eleitos, os candidatos evidentemente terão que governar e legislar para quem os bancou. Aliás, os partidos maiores têm mais propaganda mesmo nos horários gratuitos de rádio e TV.

Os candidatos e o Tribunal Superior Eleitoral tentam convencer o povo da importância que as eleições realmente não têm. A população já descobriu ser jogo de cartas marcadas, de que de nada adiantam as eleições, uma vez que sempre ganha o capital, seja de que partido for. Por isso mesmo, muitos vendem o voto, trocam por pequenos benefícios, anulam, votam em branco ou simplesmente fazem como eu: não comparecem às urnas.

Nas penúltimas eleições, apesar de toda a propaganda indutiva e coercitiva — autêntica lavagem cerebral ao comparecimento eleitoral — dos 136 milhões aptos a votar, 29 milhões se abstiveram, 6,1 milhões anularam, 3,4 milhões votaram em branco, perfazendo quase 40 milhões de votos inválidos. Na última eleição esse número aumentou, sendo que os números de votos brancos, nulos, e abstenções suplantaram os votos do governador Pezão.

Agora, este número vai aumentar e muito, pois o PT fez quase o mesmo que os governos entreguistas do passado, e apesar disto sofreu um golpe, uma vez que, quem se alia a bandidos, não pode esperar fidelidade destes. Os partidos que se apresentam como aparentemente de esquerda e mais combativos (PSTU, PCB, PCO e Psol) na verdade apenas são a cereja do bolo, em nada influenciando a vontade dos dominantes, mesmo porque sabem que são consentidos para dar aparência de uma democracia que não existe. Movimentos sociais, o povo na rua, sindicatos dos trabalhadores combativos, esses é que poderão, nas mobilizações, trazer a mudança, a tão sonhada revolução.

Na verdade, para democratizar as eleições, o voto não deveria ser obrigatório; a escolha dos candidatos seria feita nos bairros; o espaço e tempo de propaganda seriam iguais, inclusive para voto nulo e abstenções; candidaturas avulsas, fim da indicação de ministros pelo governo, com eleição direta para STF (Supremo Tribunal Federal), STJ (Superior Tribunal de Justiça) e TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Em vez da atual forma antidemocrática de eleição, o povo deveria ser consultado através de plebiscitos para as questões que envolvam a soberania nacional e popular, como o fim dos leilões e a aplicação dos recursos do petróleo estatizado e sob o controle dos trabalhadores, para a reforma agrária, urbana, da saúde e da educação; e para punir os torturadores do golpe terrorista de 1964.

Por fim, destituição, mediante votação dos representantes que não cumprirem com as promessas de campanha, ou seja, várias eleições pra valer, em vez do engodo do atual processo de “escolha”. O melhor é a desobediência civil: não vote!

*André de Paula é membro da Anistia Internacional e advogado da Frente Internacionalista dos Sem Teto –FIST.