28.8.16

POESIAS: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E FERNANDO PESSOA

CULTURA -


LIRA ROMANTIQUINHA (Carlos Drummond de Andrade)

Por que me trancas 

o rosto e o riso 
e assim me arrancas 
do paraíso?

Por que não queres, 

deixando o alarme 
(ai, Deus: mulheres!),
acarinhar-me?

Por que cultivas 

as sem perfume 
e agressivas 
flores do ciúme?

Acaso ignoras 

que te amo tanto, 
todas as horas, 
já nem sei quanto?

Visto que em suma 

é todo teu, 
de mais nenhuma,
o peito meu?

Anjo sem fé 

nas minhas juras, 
porque é que é 
que me angusturas?

Minh’alma chove 

frio, tristinho. 
Não te comove 
este versinho?


***

Baladas de uma outra terra (Fernando Pessoa)

Baladas de uma outra terra, aliadas

Às saudades das fadas, amadas por gnomos idos,
Retinem lívidas ainda aos ouvidos
Dos luares das altas noites aladas…
Pelos canais barcas erradas
Segredam-se rumos descridos…

E tresloucadas ou casadas com o som das baladas,

As fadas são belas e as estrelas
São delas… Ei-las alheadas…

E sao fumos os rumos das barcas sonhadas,

Nos canais fatais iguais de erradas,
As barcas parcas das fadas,
Das fadas aladas e hiemais
E caladas…

Toadas afastadas, irreais, de baladas…

Ais…