Via UGT-RJ -
Em destaque Nilson Duarte Costa, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Rio (UGT-RJ) e do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sitraicp). |
Dar visibilidade aos acidentes ocorridos durante as obras da Rio 2016 e, assim, pressionar o Comitê Olímpico Internacional (COI) a assumir compromissos. Além disso, criar instrumentos que proporcionem condições de segurança e saúde aos trabalhadores nos eventos esportivos da entidade ao redor do mundo.
Com este objetivo, a ICM – Internacional de Trabalhadores da Construção e da Madeira América Latina e Caribe realizou na quinta-feira, 28, o ato “Vidas perdidas nas obras das Olimpíadas do Rio de Janeiro: uma homenagem aos trabalhadores”, em repúdio às 11 mortes e 3 graves acidentes ocorridos nas obras da Rio 2016.
Realizada em parceria com o Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS), por meio da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a manifestação, na opinião do presidente da União Geral dos Trabalhadores do Rio (UGT-RJ) e do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Pesada (Sitraicp), Nilson Duarte Costa, deve ser vista como um ato em defesa da vida.
“Enquanto representantes dos trabalhadores, sabemos que a maioria dos acidentes acontece por falta de equipamentos e materiais de qualidade que garantam a vida dos trabalhadores. No entanto, é importante que saibam que o sindicato não luta apenas por melhores salários ou alimentação, mas também pela vida. Essa é a nossa responsabilidade”, enfatizou o presidente, lembrando que muitas empresas ainda hoje usam cordas no lugar dos cintos de segurança.
Compromisso com a luta pela vida
Representante das entidades filiadas à ICM no Brasil, Nilson esclareceu que “as cordas têm capacidade para suportar até 140k e com o tempo vão se desgastando. As empresas não renovam as cordas porque nossas leis são obsoletas e permitem que isso aconteça, pois as empresas só pensam em gerar altos lucros. A vida é muito mais importante que tudo isso”, afirmou ele, reforçando a importância do trabalho realizado pela ICM no Brasil junto aos órgãos governamentais e revelando, ainda, sua solidariedade aos familiares ali presentes.
Representante da ICM Brasil, Marina Gurgel lamentou a falta de interesse do governo do Estado e da Prefeitura no ato. “Uma pena”, disse ela, reforçando a ideia de marcar o fato de que 11 vidas foram perdidas por falta de cuidados suficientes”.
“Cada uma dessas mortes representa nossa impotência”, disse a auditora do MTE, Elaine Castilho, cuja fala foi endossada pelo pesquisador da Fiocruz Carlos Machado: “Hoje é dia de repúdio. Basta! Repudiamos fortemente as mortes nas obras das Olimpíadas”.
O ato foi acompanhado por outras lideranças ugetistas do setor de construção, além do presidente Nilson. Entre eles, o presidente do Sindicato da Construção de Duque de Caxias, Josimar Campos; de Nova Iguaçu, Tiago Cunha; e de Porto Alegre (RS), Gelson Santana.
Rio 2016: 260 ações, 1.675 autos de infração e apenas 39 embargos
Pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP/Fiocruz), o professor Francisco Pedra ressalta que “durante as 260 ações da equipe de fiscalização do Ministério do Trabalho, nas obras dos Jogos Olímpicos Rio 2016, 1.675 autos de infração foram emitidos e, em 39 ocasiões, as construções foram embargadas, o que corresponde a 15% delas. As obras para as Olimpíadas de Londres foram concluídas sem registro de mortes”.
Ao ler uma carta sobre as mortes, o professor Pedra anunciou recente denúncia da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria da Construção e do Mobiliário (Contricon) sobre a contratação apressada de trabalhadores, a falta de treinamento e a alta rotatividade nos canteiros das construções. Entretanto, diz o documento, segundo o senador Ataídes de Oliveira, o Sistema S arrecadou 15 bilhões de reais para a tarefa de qualificar a mão de obra, mas não demonstra onde foram aplicados esses recursos.
A carta traz críticas, ainda, do Senador Paulo Paim que apontou em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado (2013) que para cada dez acidentes, oito são com terceirizados.
Plantando a árvore da vida
Representante dos familiares das vítimas dos acidentes, Alan Sampaio falou sobre o irmão Tiago que, aos 30 anos, deixou uma filha de 5 anos, uma noiva e a mãe que, segundo ele, até hoje não se conforma.
“Gostaria de apresentar o Tiago. Nas obras e no bairro onde a gente cresceu e viveu era conhecido como pão doce. Tiago era um jovem muito bom. Tiago tinha um sonho, projetava coisas pensando na filha”, disse ele emocionado e emocionando a todos.
Em seguida, com a filha também de 5 anos, plantou uma árvore, um pé de Pau Brasil, em ato simbolizando a vida. O evento foi encerrado com a inauguração de uma placa em homenagem às vitimas no pátio do Cesteh.
Mortes e trabalho análogo ao escravo
Desde março de 2015, a ICM vinha alertando as autoridades e os organizadores dos Jogos sobre as condições de trabalho, especialmente na reta final das obras. A entidade chegou a apresentar uma pesquisa realizada pela Fundacentro/MTE mostrando o aumento do número de acidentes conforme as obras se aproximavam do prazo final. Também, para evitar que os acidentes se repetissem e que as interdições acontecessem, a ICM propôs um Protocolo de Segurança nas Obras das Olimpíadas 2016 que estabelece uma série de diretrizes de ação para garantir condições seguras de trabalho.
Mesmo assim contabilizaram-se 11 mortes e três vítimas de acidente de trabalho nas obras, além de casos de trabalhadores encontrados nas obras das Olimpíadas 2016 em condições análogas à escravidão nas operações do Grupo Especial de Fiscalização Móvel e Combate ao Trabalho Escravo do Ministério do Trabalho e Emprego.
*Por Luiza Felix, com informações da ICM e Ceste.