8.3.16

ENTRE A LAVA-JATO E AS BRAVATAS DE LULA: CORTINAS DE FUMAÇA PARA ENCOBRIR A VERDADEIRA, E CALAMITOSA, SITUAÇÃO DO PAÍS E DO POVO

IGOR MENDES -


A condução “debaixo de vara” de Lula para depor na PF, na última sexta, parece demonstrar de maneira inequívoca que este e o PT estão perdendo a briga de piratas dentro das altas esferas do Estado, concentrada atualmente em torno da Operação Lava-Jato. O que para muitos foi um passo em falso de Sérgio Moro, parece, na verdade, como já foi dito por outros, um balão de ensaio para medir o efeito de uma eventual prisão de Luiz Inácio. Veremos.

O que chama atenção é a “ofensiva” encenada por Lula e pelo PT, que estão, na verdade, desesperadamente acuados. Discutir se no caso concreto cabia ou não a agora famosa “condução coercitiva” é seguir uma pista falsa. Ora, ao longo dos treze anos em que se encontra no governo o PT tem participado diretamente do processo de endurecimento penal do Estado brasileiro (nesse período mais que dobrou a população carcerária) e não me lembro de nenhuma declaração de seus líderes questionando o genocídio indígena, o espancamento da juventude nas ruas em 2013, ou o desaparecimento de Amarildo.

Embora chorem sobre o “espetáculo midiático” o fato é que esses governos petistas em nada alteraram o imenso poder dos monopólios de imprensa, que seguiram sendo beneficiados por vultosa verba publicitária do governo federal, ademais de isenção de impostos e farto crédito público.

Os discursos de Lula proferidos na sexta parecem traçar uma clara estratégia de defesa: ameaçar uma “venezuelização”, dizer que mexer com ele é “brincar com fogo” (declaração de Gilberto Carvalho na Folha), sinalizar que, se preciso, irá convocar o povo às ruas. Para eles o povo realmente é isso: uma massa inerme, que manobram quando e onde querem, de acordo com seus interesses. Enquanto isso, o governo desse mesmo partido ataca os trabalhadores com arrocho salarial, aumento de impostos, novas “reformas” trabalhista e previdenciária. Acaba de aprovar, inclusive, (vejam só!) novas regras de exploração do pré-sal, beneficiando indecentemente as transnacionais, rasgando outro dos seus pontos de campanha. Isso a título de citar apenas um exemplo, entre milhares de outros.

Retire-se dos discursos de Luiz Inácio a parte emotiva, os jargões populares (que habilidosamente usa), os ataques a uma “direita” que jamais nomeia: não sobrará nada. Projeto de País, de Nação, de Povo, absolutamente nada, exceto um orgulho difuso por aqueles do “andar de baixo” poderem comer carne, ou andar de avião...e perder tudo na enchente, ou morrer na fila dos hospitais, poderíamos complementar.

Joga, é verdade, sua cartada desesperada. Avesso sempre ao enfrentamento, assumidamente conciliador, quadro que é surgido das entranhas da Igreja Católica e do sindicalismo anticomunista da AFL-CIO, acena com uma radicalização para inglês ver, visando as eleições de 2018. Se e como chegará até lá ninguém sabe. O que importa, e deve ser dito, e repetido, é que esta briga não é nossa. Nem Moro e seus procuradores, agindo com aval das altas cúpulas de dominação de nossa semicolônia, nem a “oposição” calada por ter teto de vidro, nem Lula e o PT representam, remotamente, os interesses populares. Rezam segundo a cartilha do imperialismo, do capital monopolista (grande burguesia), do latifúndio. Temem, todos, que o povo saia às ruas para cobrar o que lhe pertence, pois que vivem locupletados por essa ordem, que em essência é a mesma desde a República Velha. Não acaba de fazer aprovar, o governo Dilma, a draconiana lei antiterrorismo, diante da qual a Lava-Jato não é mais do que um cafezinho?

Aos trabalhadores cabe rechaçar os que querem encabresta-los, fazendo-os escolher, entre dois ou três projetos antinacionais, qual o “menos pior”. Devem, ao contrário, elevar suas mobilizações, exigir cada vez mais inconciliavelmente seus direitos, enxovalhados pelo atual governo de turno. No campo avançar contra o latifúndio, que tem tido nos últimos anos carta branca para matar como jamais teve; nas cidades contra a falência dos serviços “públicos”, por emprego, moradia, dignidade. E principalmente: mobilizar-se em defesa de uma Grande Revolução, fora da qual nenhuma emancipação autêntica é possível.