IGOR MENDES -
As declarações dadas à Polícia por Delcídio do Amaral, até há pouco líder do governo no Senado, acusando tanto Dilma quanto Lula de tentarem interferir nos rumos da Operação Lava-Jato, aquela manobrando indicações para o Superior Tribunal de Justiça (STJ), este planejando a fuga de Nestor Cerveró, jogam mais lenha na fogueira da crise econômica e política que devora o governo, prometendo imprevisíveis desdobramentos para os próximos dias.
De fato, a disputa de morte travada por diferentes grupos de piratas para ocupar os postos-chave na máquina estatal é um aspecto importante da situação toda particular vivida atualmente no País. PT, PSDB, PMDB e demais implicados não são nada mais que isso: grupos de bandoleiros, que divergem quanto ao papel que cada um pretende ocupar no gerenciamento de turno do velho Estado (todos querem ser protagonistas), mas convergem quanto à manutenção dessa velha ordem, concordam que são as massas de trabalhadores que devem ser escorchadas para pagar o serviço da dívida e os lucros exorbitantes dos monopólios, não hesitam em reprimir essas massas quando levantam-se para reivindicar seus direitos. Quem duvidar que olhe, nas últimas semanas, a aprovação da lei antiterrorismo, as novas regras da exploração do Pré-Sal (beneficiando, indecentemente, as transnacionais) e a revisão da presunção de inocência pelo STF, fatos que mereceram discreta repercussão nos monopólios de imprensa, apesar da sua gravidade, e tire as conclusões necessárias. Tudo isto apenas comprovando, eloquentemente, que todas as siglas da politicalha oficial são apenas subgrupos do mesmo partido único do imperialismo, da grande burguesia e do latifúndio.
O outro aspecto, essencial, do momento atual, é o levantamento crescente das massas de operários, camponeses, estudantes, do povo favelado e de setores médios da pequena burguesia em defesa dos seus interesses pisoteados. O traço distintivo, aí, é a incapacidade cada vez maior das antigas direções pelegas de conter esse auge do movimento popular, que tirando lições dos treze anos de governos de “esquerda” não se deixa manipular facilmente pelo oportunismo, qualquer que seja seu matiz. Aqui no Rio, levado pela oligarquia que o governa desde a derrocada do brizolismo ao fundo do poço, a educação estadual está em greve, tendo como fator novo desse movimento a entrada massiva dos estudantes secundaristas na luta –que prometem ocupar as escolas, seguindo o exemplo dos seus companheiros de São Paulo. Na frente da luta pela terra, a despeito da capitulação vergonhosa da direção do MST, gesta-se um irresistível auge da luta camponesa, com novas e maiores tomadas e confrontos mais radicalizados entre as massas de posseiros ou sem-terra com as forças oficiais ou extraoficiais (como os bandos de pistoleiros, por exemplo) a serviço do latifúndio.
Em síntese, olhar apenas a disputa entre os “de cima” e não atentar para a combatividade e politização crescente dos “de baixo” seria grave erro, como aquele, tão comum, de enxergar apenas as dificuldades do momento atual –com inevitável aumento da repressão e piora das condições de vida do povo –e subestimar as grandes possibilidades que ele nos traz. O problema, realmente, do ponto de vista dos trabalhadores, não é colocar-se a reboque desta ou daquela fração do partido único da reação, ainda que travestida de “menor pior”, mas fortalecer crescentemente suas organizações e consciência de classe, independente, não apenas para defender-se dos duros golpes desfechados contra seus direitos, mas principalmente para exercer o mais importante e mais sagrado de todos os direitos, condição para assegurar todos os demais: o direito a tomar o Poder, destruindo essa velha ordem que, apesar de caduca, não cairá sozinha.