7.3.16

A BALA DE OURO

SEBASTIÃO NERY -


Era uma vez dois amigos, Patinhas e Gereba. Lá em Tucano, no sertão da Bahia. Colegas de escola, inteligentes, talentosos, brilhantes, faziam musica juntos. Patinhas escrevia, compunha e cantava, Gereba tocava instrumentos, compunha e cantava.

Em 1973, fizeram um disco juntos: “Bendengó”, um LP com 12 faixas. Era uma homenagem ao meteorito “Bendengó” que caiu na cidade no final do século 19, grande e belo, e que está até hoje no Museu Nacional do Rio de Janeiro. Musica de maior sucesso: “A Bala de Ouro”.

Um dia vieram juntos para Salvador e a vida os separou: Gereba continuou fazendo sua musica, cada dia melhor, e Patinhas foi ser jornalista, também cada dia mais experiente e escrevendo melhor. Descobriu o mestre Duda Mendonça e o marketing político. Era a “A Bala de Ouro”, o caminho de ganhar dinheiro, muito dinheiro, formulando, escrevendo, criando a magia política: 50% de talento, 50% de mentira.

DUDA

Duda Mendonça, catedrático do marketing, explodiu na campanha presidencial de Lula em 2002, quando o PT lhe pagou os serviços com 5 milhões de dólares do Mensalão em Caixa 2, nos Estados Unidos. Na reeleição de 2006 já era o auxiliar Patinhas quem comandava o espetáculo.

Patinhas já estava de nome novo: João Santana, herdeiro político e profissional do talento de varias gerações de Santanas na Bahia. Saiu de Lula, colou em Dilma. E nela encontrou terreno fértil para aplicar dissimulação, audácia e mentira. Na cabeça disfarçada de fingida inocência, plantou violência nunca vista na política brasileira:

1 – “Eleição é para ganhar, custe o que custar”.

– “A política é a sublimação e o exercício da violência”.
– “Os candidatos são às vezes mais frágeis do que o eleitor”.
– “Ninguém gosta de levar bordoada. Ou reage ou se quebranta”.

Do Mensalão Santana pulou para o Petrolão. Em 2010 e 2014, transformou-se no Rasputin, no grande conselheiro da Presidente.

SANTANA

João Santana é uma das raríssimas pessoas que têm intimidade com a Presidente e ela ouve sem gritar. Pede conselhos:

– “Vou com roupa de que cor”?

Ele não gostou do primeiro programa presidencial de 2014 na TV:

– “Tive que ser duro com ela”.

Na ultima campanha a empresa de Santana recebeu R$88,9 milhões.

Uma bala de prata derrubou Duda Mendonça. Uma de ouro derrubou João Santana. Gula demais levou João Santana, o Patinhas, para a cadeia.

LULA

Lá no Nordeste o povo avisa: – “Sabedoria quando é demais vira bicho e come o dono”. É espantoso o espetáculo promovido pelo ex-presidente Lula no escândalo da Petrobrás. A cada semana a Operação Lava-Jato apresenta novos fatos, novas provas contra Lula. Nem os mais crédulos aliados já não toleram o mistério que leva Lula a negar-se a dar uma versão, qualquer que ela seja, sobre o Triplex do Guarujá, o sitio de Atibaia, as contas secretas do Instituto Lula, as palestras milionárias que ninguém soube, no contubérnio libertino com as grandes empreiteiras.

Se é tudo natural, tudo correto, por que ele não diz, não explica? Vem sempre com uma conversa atravessada, despistada, de “cerca lourenço”, de quem não tem explicação. Se a solução é a formula Dilma, de inventar uma historia, mentir, mentir sempre, permanentemente, que ao menos lance mão dela. Mas esnobar a opinião publica, fazer de conta que ela não existe, convocar os tolos para a rua sem saberem do que se trata é maldade, é explorar até o fim a ignorância popular. Um dia vão pagar.

TANCREDO

Três horas da manhã, toca o telefone em casa de Tancredo Neves. Era o ex-ministro Gustavo Capanema, de Brasília:

– Olhe, Tancredo, estou acordando você porque estou com um problema e não consigo dormir. Talvez você tenha uma ideia mais clara.

Fui chamado hoje à tarde ao Planalto e durante três horas discuti o projeto do Voto Distrital com o ministro Leitão de Abreu. Ele estava muito interessado nos meus estudos e acha que o Distrital pode ser um bom instrumento para aperfeiçoar a representação política no Congresso.

– Embora eu seja contra, reconheço que o assunto é importante e precisa ser discutido. Só não entendo é por que você não consegue dormir.

– Pois é, Tancredo. Não consigo dormir. O ministro me deu pressa.
– Ah, deu pressa, deu? Então deve haver mais coisa.
– Você também acha, Tancredo? Ótimo. Agora, vou dormir.

O desastre deste governo é que nem projeto tem. Nem se pode dormir.