CARLOS CHAGAS -
Acima e além da denúncia contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha; mais do que o ridículo de manifestações populares em favor de Dilma Rousseff plenas de protestos contra o ajuste fiscal por ela mesmo imposto ao país; por trás das manobras envolvendo o impeachment da presidente da República - emerge um monstro de feições muito mais hediondas: o desemprego.
A mídia maquia o horror divulgando estar o desemprego em 7% da população. Os números reais são omitidos para não chocar, pois hoje os desempregados são oito milhões de trabalhadores, boa parte demitida nos últimos meses. Quer dizer, uma força de trabalho alijada da indústria, do comércio, dos serviços e da agricultura, essencial para o desenvolvimento e condenada à fome, à miséria e à indigência. Multiplique-se o número por suas famílias e se terá a receita de uma sociedade posta em frangalhos. Aumenta a tentação para o crime, conforme demonstra o noticiário policial.
Importa notar a crueldade de ser a demissão a primeira arma da iniciativa privada diante da queda no faturamento. Não valem as leis do mercado. Quando os pátios das montadoras estão repletos de unidades não vendidas, ou seja, para vendê-las, os preços deveriam baixar. Mas não baixam, sobrevindo as dispensas em massa dos operários.
Combater demissões em troca de incentivos, crédito mais fácil e redução de impostos para as empresas poderia funcionar durante certo tempo, ainda que não funcione tempo algum, por falta de imaginação e de empenho dos governantes e dos favorecidos. Afinal, eles estão empregados, e muito bem.
Haveria saída, diante do crescimento e da aproximação do desemprego capaz de demolir instituições, a começar pela unidade nacional? Certamente, desde que com coragem. A partir da proibição de demissões por iniciativa dos poderes da União, mesmo promovendo a ampliação do crédito, a diminuição de impostos e a criação de incentivos. O importante seria a implantação de um programa emergencial de absorção dos oito milhões de marginalizados. No elenco, um roteiro de obras públicas de vulto, como as encontradas no New Deal do presidente Roosevelt.
Indagariam ingênuos e pessimistas: onde encontrar recursos para tamanha empreitada? Aqui valeria apelar para o exemplo do Robin Hood: tirar dos que tem muito para beneficiar os que nada tem. Que tal começar com o lucro dos bancos, instituições financeiras e especuladores? E o imposto sobre grandes fortunas? Mais a limitação de lucros e de remessas para o estrangeiro. Por que não estabelecer um teto para a remuneração das elites e dos privilegiados? Espremer os sonegadores para que saldem suas dividas. E a devolução dos bilhões surripiados das empresas públicas pelos corruptos de sempre? Pode ser pouco, pode não bastar para que se complete o projeto, mas seria um bom começo.
Adianta pouco Madame referir suas preocupações com o desemprego, se não adota medidas cirúrgicas para combatê-lo. Muito menos vale alegar os benefícios do bolsa-família e demais práticas assistencialistas. Restabelecer a dignidade do trabalho para oito milhões de cidadãos postos à margem da sociedade deveria constituir-se em meta prioritária, maior do que a preservação de seu mandato.