CARLOS CHAGAS -
É conhecido o diálogo entre Alexandre e Diógenes, numa praça de
Atenas, quando o vencedor dos gregos e futuro conquistador do mundo
indagou do genial pensador o que poderia dar-lhe como retribuição por
suas lições: fortunas, palácios, honrarias e tudo o mais que fosse.
Estavam defronte ao barril onde Diógenes morava, e a resposta
surpreendeu e calou Alexandre: “majestade, não me tires aquilo que não
me podes dar…” Acontece que o visitante se colocara entre o sol e o
visitado, impedindo-o de receber luz e calor.
Vale o mesmo para as relações entre o Congresso e a presidente Dilma.
Ela pode prometer tudo a deputados e senadores, desde nomeações até
benesses e favores variados, mas não terá sucesso se estiver pretendendo
comprar o silêncio e a imobilidade do Legislativo diante das iminentes
iniciativas obrigatórias a ser adotadas como reação às sucessivas
denúncias de roubalheira no governo. Parece inexorável a abertura de
processo de impeachment contra Madame, não porque ela se tenha
locupletado na lambança da Petrobras e outras, mas pelo fato de ser a
responsável maior pelo que aconteceu. Como presidente da República, não
poderia deixar de saber de tudo, do envolvimento de seu partido, de seus
aliados e até de seus ministros no desvio de dinheiros públicos para
garantir sua reeleição e a permanência da atual quadrilha no poder.
IMPEACHMENT
Dilma não conseguirá tirar do Congresso o dever irrevogável de zelar
pela sobrevivência das instituições democráticas. Porque, frente a
tantos escândalos denunciados e evidenciados, não sobreviveremos como
nação e como estado organizado caso não se faça justiça. Pode ser cruel o
afastamento de quem não participou, pessoalmente, do festival de
corrupção encenado até antes de seu primeiro mandato, mas fica claro que
tudo aconteceu com seu conhecimento. Como imaginar que pudesse
fechar-se na redoma de vidro do palácio do Planalto, cercada por
inocentes e, mesmo, por coniventes? Até por isso, se fosse verdade, não
teria condições de continuar. O país não aguentará três anos e meio de
silêncio, depois de tanto tempo com as vísceras expostas.
Como ignorar tudo o que o Ministério Público e a Polícia Federal vem
apurando desde o mensalão do período Lula, sem falar na exposição
promovida pela mídia e, mais do que tudo, do trabalho que a Abin
obriga-se a prestar? É pouco, quase nada, determinar que cada um dos
acusados se defenda, até sem afastá-los de suas funções e de seu círculo
mais chegado. Por tamanha leniência, para não falar em conluio, logo se
abrirá no Legislativo o processo de afastamento da presidente. Assim
como Diógenes não passava sem o seu banho de sol, o Congresso também não
desconhecerá a Constituição.



