9.3.15

FALTA ALGUÉM, DR. JANOT

MIRANDA SÁ -


Eu era adolescente quando o jornalista David Nasser escreveu o livro “Falta Alguém em Nuremberg”, acusando os colaboradores de Hitler e os ditadores fascistas da Europa e América Latina. Como admirador de Nasser, lembrei-me do título “Falta Alguém” na lista dos investigados no esquema de corrupção da Petrobras pela Operação Lava Jato.

Nuremberg, a secular cidade alemã, sediou o tribunal internacional que cumpriu a tarefa de julgar os altos dignitários nazistas, generais e hierarcas do partido, responsáveis por crimes de guerra. Agora, Brasília sediará o julgamento dos bandidos que arrasaram a empresa estatal de petróleo. Espero isenção do STF, como agiu o ministro Joaquim Barbosa na Ação Penal 470, movida pelo Ministério Público contra os mensaleiros.

Joaquim Barbosa, com rara habilidade e decência, completou e preencheu a peça acusatória, condenando à prisão os assaltantes do Erário e do Banco do Brasil para comprar parlamentares corruptíveis em proveito do PT-governo.

Desta vez, no Petrolão, estão investigados 47 políticos com ou sem mandato. Detentores de mandato ficarão no STF, e os outros irão para instâncias inferiores; mas o banco dos réus é um só; tanto faz sentar-se na Alta Corte, como em outros degraus da ordem hierárquica jurídica…

Assim, é bom lembrar ao doutor Janot que no andar de baixo falta alguém. E para encontrar (ou encontrá-los), o fio da meada é o lead da jornalista Josie Jeronimo numa matéria publicada na Veja. Ela escreveu: “Quando, em fevereiro de 2011, Graça Foster assumiu a presidência da Petrobras, analistas de mercado de energia diziam que ela havia herdado do antecessor, José Sérgio Gabrielli, um campo minado”.

Então vamos lá. Gabrielli sucedeu a José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, exemplo completo do aparelhamento promovido por Lula da Silva ao assumir a presidência da República. Dutra, sem entender lufas de administração empresarial e muito menos de petróleo, foi apenas aplainar o caminho para ocupação da Petrobras pelos “quadros” e “operadores” do partido.

Então começou com Gabrielli, prestigiado por Lula, o esquema de irrigação de dinheiro para as campanhas eleitorais do PT, PP e PMDB, através da nomeação de diretores e conselheiros comprometidos pelo isolamento dos engenheiros e técnicos corretos.

Ascenderam com ele à direção da Petrobras Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Renato Duque, e o Barusco começou a mostrar a cara… Foram estes “auxiliares” que abriram as trancas para o cartel das empreiteiras que, corrompendo agentes públicos corruptos, explorou a grande jazida de dinheiro vivo.

Registre-se que foi na Era Gabrielli que ocorreram os assaltos nas refinarias Abreu e Lima, em Pernambuco, Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, além do caça-níquel que é o Complexo Petroquímico do RJ (Comperj).

Em 2006, ocorreu a suspeitosa compra da refinaria norte-americana de Pasadena que, segundo o Tribunal de Contas da União, deu um prejuízo de US$ 792,3 milhões. A maracutaia foi negociada por Cerveró e aprovada pelo Conselho presidido por Dilma Rousseff.

Após esses atentados à honestidade, muito ao estilo PT, Gabrielli – com escândalo de Pasadena já denunciado –, foi substituído por Graça Foster em 2012. A mineira de Caratinga foi indicada por Dilma. Eram amigas desde o tempo em que a presidente era secretária de energia no Rio Grande do Sul e ela ocupava a gerência da Petrobras para a implantação do gasoduto Bolívia-Brasil.

As duas são tão íntimas que se tratam carinhosamente de “Dilminha” e de “Gracinha”, ou “Graciosa”, apelidos confirmados por quem privou de reuniões com elas. Esta relação explica o porquê Dilma manteve Graça na presidência da Petrobras por um tempo prejudicial às investigações que ocorriam na empresa.

Estes personagens da tragédia da Petrobras ficaram de fora do pedido de inquirições jurídicas e, embora transparentes, deixam perceber um sujeito oculto. Por isso, é aconselhável que os manifestantes no dia 15 de março, levantem um cartaz “Falta Alguém, dr. Janot”!