MIRANDA SÁ -
Eu era
adolescente quando o jornalista David Nasser escreveu o livro “Falta
Alguém em Nuremberg”, acusando os colaboradores de Hitler e os ditadores
fascistas da Europa e América Latina. Como admirador de Nasser, lembrei-me do
título “Falta Alguém” na lista dos investigados no esquema de corrupção da
Petrobras pela Operação Lava Jato.
Nuremberg, a
secular cidade alemã, sediou o tribunal internacional que cumpriu a tarefa de
julgar os altos dignitários nazistas, generais e hierarcas do partido,
responsáveis por crimes de guerra. Agora, Brasília sediará o julgamento dos
bandidos que arrasaram a empresa estatal de petróleo. Espero isenção do STF,
como agiu o ministro Joaquim Barbosa na Ação Penal 470, movida pelo Ministério
Público contra os mensaleiros.
Joaquim Barbosa,
com rara habilidade e decência, completou e preencheu a peça acusatória,
condenando à prisão os assaltantes do Erário e do Banco do Brasil para comprar
parlamentares corruptíveis em proveito do PT-governo.
Desta vez, no
Petrolão, estão investigados 47 políticos com ou sem mandato. Detentores de
mandato ficarão no STF, e os outros irão para instâncias inferiores; mas o
banco dos réus é um só; tanto faz sentar-se na Alta Corte, como em outros
degraus da ordem hierárquica jurídica…
Assim, é bom lembrar
ao doutor Janot que no andar de baixo falta alguém. E para encontrar (ou
encontrá-los), o fio da meada é o lead da jornalista Josie Jeronimo numa
matéria publicada na Veja. Ela escreveu: “Quando, em fevereiro de 2011, Graça
Foster assumiu a presidência da Petrobras, analistas de mercado de energia
diziam que ela havia herdado do antecessor, José Sérgio Gabrielli, um campo
minado”.
Então vamos lá.
Gabrielli sucedeu a José Eduardo Dutra, ex-presidente do PT, exemplo completo
do aparelhamento promovido por Lula da Silva ao assumir a presidência da
República. Dutra, sem entender lufas de administração empresarial e muito menos
de petróleo, foi apenas aplainar o caminho para ocupação da Petrobras pelos
“quadros” e “operadores” do partido.
Então começou com
Gabrielli, prestigiado por Lula, o esquema de irrigação de dinheiro para as
campanhas eleitorais do PT, PP e PMDB, através da nomeação de diretores e
conselheiros comprometidos pelo isolamento dos engenheiros e técnicos corretos.
Ascenderam com ele
à direção da Petrobras Paulo Roberto Costa, Nestor Cerveró, Renato Duque, e o
Barusco começou a mostrar a cara… Foram estes “auxiliares” que abriram as
trancas para o cartel das empreiteiras que, corrompendo agentes públicos
corruptos, explorou a grande jazida de dinheiro vivo.
Registre-se que foi
na Era Gabrielli que ocorreram os assaltos nas refinarias Abreu e Lima, em
Pernambuco, Premium I, no Maranhão, e Premium II, no Ceará, além do caça-níquel
que é o Complexo Petroquímico do RJ (Comperj).
Em 2006, ocorreu a
suspeitosa compra da refinaria norte-americana de Pasadena que, segundo o
Tribunal de Contas da União, deu um prejuízo de US$ 792,3 milhões. A maracutaia
foi negociada por Cerveró e aprovada pelo Conselho presidido por Dilma
Rousseff.
Após esses
atentados à honestidade, muito ao estilo PT, Gabrielli – com escândalo de
Pasadena já denunciado –, foi substituído por Graça Foster em 2012. A mineira
de Caratinga foi indicada por Dilma. Eram amigas desde o tempo em que a
presidente era secretária de energia no Rio Grande do Sul e ela ocupava a
gerência da Petrobras para a implantação do gasoduto Bolívia-Brasil.
As duas são tão
íntimas que se tratam carinhosamente de “Dilminha” e de “Gracinha”, ou
“Graciosa”, apelidos confirmados por quem privou de reuniões com elas. Esta
relação explica o porquê Dilma manteve Graça na presidência da Petrobras por um
tempo prejudicial às investigações que ocorriam na empresa.
Estes personagens
da tragédia da Petrobras ficaram de fora do pedido de inquirições jurídicas e,
embora transparentes, deixam perceber um sujeito oculto. Por isso, é
aconselhável que os manifestantes no dia 15 de março, levantem um cartaz “Falta
Alguém, dr. Janot”!