O ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e seu sócio Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula, têm
recebido pessoalmente desde o fim do ano passado emissários de
empreiteiros que são alvo da Operação Lava Jato.
Preocupados
com as prisões preventivas em curso e com as consequências financeiras
das investigações, executivos pedem uma intervenção política de Lula
para evitar o colapso econômico das empresas.
Okamotto admitiu ter recebido “várias pessoas” de empresas investigadas na Lava Jato. O Estado ouviu relatos de interlocutores segundo os quais, em alguns momentos, empresários chegaram a dar um tom de ameaça às conversas.
No
fim do ano passado, João Santana, diretor da Constran, empresa do grupo
UTC, agendou um encontro com Lula – o presidente da UTC, Ricardo
Pessoa, foi preso pela Lava Jato e é apontado como coordenador do cartel
de empreiteiras que atuava na Petrobrás.
Santana
foi recebido por Okamotto. A conversa foi tensa. A empreiteira buscava
orientação do ex-presidente. Em 2014, a UTC doou R$ 21,7 milhões para
campanhas do PT – R$ 7,5 milhões em apoio à reeleição da presidente
Dilma Rousseff.
Indagado
sobre o encontro com o diretor, Okamotto admitiu o pedido de socorro de
Santana. “Ele queria conversar, explicar as dificuldades que as empresas
estavam enfrentando. Disse: ‘Você tem que procurar alguém do governo’”,
contou o presidente do Instituto Lula.
“Ele
estava sentindo que as portas estavam fechadas, que tudo estava parado
no governo, nos bancos. Eu disse a ele que acho que ninguém tem
interesse em prejudicar as empresas. Ele está com uma preocupação de que
não tinha caixa, que tinha problema de parar as obras, que iria perder,
que estava sendo pressionado pelos sócios, coisa desse tipo”, disse
Okamotto.
A assessoria de imprensa da Constran nega o encontro.
A
força-tarefa da operação prendeu uma série de executivos de
empreiteiras em 14 de novembro, na sétima fase da Lava Jato. Um deles
era o presidente da OAS, Léo Pinheiro. Antes de ser preso, ele se
encontrou com Lula para pedir ajuda em função das primeiras notícias
sobre o conteúdo da delação premiada do ex-diretor da Petrobrás Paulo
Roberto Costa que implicavam sua empresa.
Lula
e Pinheiro são amigos desde a época de sindicalista do ex-presidente
petista, que negou ter mantido conversas sobre a Operação Lava Jato com
interlocutores das empresas.
Estratégias comuns
A
cúpula das empreiteiras também tem feito reuniões entre si para avaliar
os efeitos da Lava Jato. Após a prisão dos executivos, o fundador da
OAS, César Mata Pires, procurou Marcelo Odebrecht, dono da empresa que
leva seu sobrenome, para saber como eles haviam se livrado da prisão até
agora. Embora alvo de mandados de busca e de um inquérito da Polícia
Federal, a Odebrecht não teve nenhum executivo detido na Lava Jato.
Conforme
relatos de quatro pessoas, Pires disse que as duas empresas têm
negócios em comum e que a OAS não assumiria sozinha as consequências da
investigação. Ele afirmou ao dono da Odebrecht não estar preocupado em
salvar a própria pele, porque já havia vivido bastante. Mas não iria
deixar que seus herdeiros ficassem com uma empresa destruída por erros
cometidos em equipe.
A
assessoria de imprensa da Odebrecht disse que houve vários encontros
entre as duas empresas, mas que nenhum “teve como pauta as investigações
sobre a Petrobrás em si”. O departamento de comunicação da OAS nega a
reunião com a Odebrecht.
Em consequência da Operação Lava
Jato, as empreiteiras acusadas de fazer parte do “clube” que fraudava
licitações e corrompia agentes públicos no esquema de corrupção e
desvios na Petrobrás estão impedidas de participar de novos contratos
com a estatal.
Com isso,
algumas enfrentam problemas financeiros, o que tem tirado o sono dos
donos dessas empresas. No dia 27 de janeiro, Dilma fez um pronunciamento
no qual disse que “é preciso punir as pessoas”, e não “destruir
empresas”.
Críticas
A
tentativa de empreiteiras envolvidas na Lava Jato de pedir ajuda a
agentes políticos já foi condenada pelo juiz Sérgio Moro – responsável
pela operação – ao se referir aos encontros de advogados das empresas
com o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
“Trata-se
de uma indevida, embora malsucedida tentativa dos acusados e das
empreiteiras de obter interferência política em seu favor no processo
judicial (...) certamente com o recorrente discurso de que as
empreiteiras e os acusados são muito importantes e bem relacionados para
serem processados”, criticou o juiz.