CARLOS CHAGAS -
Caso desembarcasse em Brasília neste Carnaval, o ET tomaria o poder,
podendo ancorar o seu disco-voador no palácio do Planalto, no Congresso
ou no prédio do Supremo Tribunal Federal. Faria da Esplanada dos
Ministérios pista para as aeronaves de apoio e palco para uma exposição
sobre as excelências do governo alienígena em substituição aos três
poderes da União, ausentes da capital federal desde sexta-feira.
A presidente Dilma refugiou-se na Base Naval de Aratu, na Bahia,
disposta a não atender telefones nem dedilhar as diabólicas maquininhas
capazes de conectá-la com o mundo exterior. O vice-presidente Michel
Temer permanece em São Paulo.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, viajou para o exterior sem
informar qual o país, e o presidente do Senado, Renan Calheiros,
aproveita o sol da praia da Barra de São Miguel, em Alagoas. O
presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, passeia
entre a Itália e a Espanha. Dos ministros palacianos sabe-se
encontrarem-se em seus estados de origem, assim como os demais
integrantes da equipe governamental, até os da área econômica. Deputados
e senadores descansam em suas bases, fora os convidados para os
desfiles no Sambódromo, no Rio. Até os tradicionais colunistas dos
principais jornais escafederam-se.
UM DESERTO
Brasília, sede dos poderes da União, está deserta. Abandonada, até
por parte de sua população. Vivêssemos os tempos bicudos da ditadura e o
palco estaria armado para a eclosão de mais um golpe dentro do golpe,
já que os soldados permanecem nos quartéis. Como o regime é democrático,
fica apenas o vazio, sempre propício aos inusitados, mesmo os
indesejados.
O singular nessa constatação é que não se fala nas malvadas medidas
de ajuste financeiro e supressão de direitos trabalhistas. Nem da
progressiva alta de preços. Sequer no perigo da inflação ou de novos
lances do escândalo na Petrobras. Apesar da ausência de chuva, a crise
hídrica e a falta de energia deixaram de preocupar. Nem a vergonha do
mau funcionamento da saúde pública merece as referências de sempre. Como
as escolas e universidades estão fechadas, vale o mesmo para as
carências do ensino.
Convenhamos, Brasília abandonada parece tranquilizar o resto do país.
A inexistência do governo federal em nada prejudica a vida de 200
milhões de habitantes. O diabo é se a moda pega e a experiência
frutifica. A menos, é claro, que o ET se disponha a desembarcar…