CARLOS CHAGAS -
As coisas são como parecem, da mesma forma como
devagar não se vai ao longe. O governo Dilma é lamentável, nada tendo
feito para interromper a corrupção, mas, ao contrário, estimulando o
lucro e as benesses das elites, favorecendo a especulação financeira
e penalizando as massas e a classe média pelo aumento de impostos,
preços, e a supressão de direitos trabalhistas. Merece, esse governo,
o repúdio da população, mesmo com parte dela iludida pela política
assistencialista de distribuir esmolas e negar direitos.
Ainda assim, torna-se necessário desbastar o cipoal de ilusões a
partir da confusão criada pelos que combatem o governo pretendendo
utilizar suas omissões em favor de mais privilégios para os mesmos de
sempre. Quando denunciam os escândalos na Petrobras não é para ver
punidos os corruptos, mas para desmontar a empresa símbolo da soberania
nacional. Trabalham, na realidade, para privatizá-la por inteiro,
entregando seu patrimônio e seu potencial às multinacionais. Da mesma
forma, denigrem o poder público já esfacelado pelas falcatruas do PT e
congêneres, não para recuperá-lo, senão precisamente para o contrário:
colocá-lo a serviço dos interesses do poder econômico internacional.
Para isso, é preciso confundir as lambanças dos que detém os controles
da nação com a própria nação. Na hipótese da implosão desse governo
incompetente, objetivam substituí-lo por outro ainda mais subserviente
às suas imposições, dentro do modelo que vai tomando conta do planeta:
submissão, redução de benefícios sociais, desemprego e sacrifícios para
as massas e a classe média, com a prevalência das leis do chamado
mercado, simples clubinho dos poderosos empenhados em explorar,
escravizar e dominar a maioria. É precisamente a tais vigaristas que
vem servindo a presente campanha de desmoralização das instituições,
mais do que desse governo inepto e corrupto. Não se trata de
defendê-lo, mas de esclarecer o que as elites pretendem ao denegri-lo.
O passado é o nosso maior tesouro, não porque nos dirá o que fazer,
mas exatamente pelo contrário: o passado nos dirá o que devemos
evitar. Tentaram quando investiram contra Getúlio Vargas, fracassando
diante da trágica e heroica solução dada por ele. Conseguiram dez anos
depois, depondo João Goulart. Em seguida, por ironia, encontraram
resistência na própria ditadura que criaram e mais tarde derrubaram.
Obtiveram sucesso com Fernando Henrique Cardoso, assustaram-se com o
Lula, sem motivo. O metalúrgico cedeu acomodou-se e trocou as
esperanças pelo assistencialismo, quer dizer, o direito pelas esmolas.
Sua sucessora seguiu na mesma linha, só que escancarando o governo à
corrupção. Foi quando os invisíveis vislumbraram a chance de subir
mais um degrau: enfraquecê-la, quem sabe derrubá-la, para aumentar o
poder do mercado e de seus interesses.
Assim estamos, à mercê de trágica opção: engrossar as fileiras do
impeachment, sabendo que sua conseqüência será um mergulho mais fundo
ainda no precipício onde jogaram a soberania nacional, ou acreditar no
inacreditável, que seria a adesão de Dilma Rousseff à causa da
recuperação dos valores sociais, econômicos e políticos a que temos
direito. Melhor aproveitar o resto do Carnaval, de olho em mais maldades
de Joaquim Levy…