ANDRÉ BARROS -
“Para quem defende a legalização da maconha e o fim da farsa da
guerra às drogas, que é a guerra aos pobres, o voto nulo tem menos
sentido ainda. Se defendemos a mudança das leis, como vamos fazer isso,
se sequer votamos? Vamos deixar esse debate apenas para a bancada
proibicionista e punitiva?” Esse é o alerta, contra o voto nulo, que o sensacional Advogado da
Marcha da Maconha, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/RJ faz a
todos os antiproibicionistas.
O voto nulo por princípio é impotente e despolitizado. Mas existe o
voto nulo consciente. Por exemplo, podemos ter no segundo turno
Garotinho e Pezão, como vêm apontando as pesquisas. Diante de tal
quadro, podemos, sim, fazer um grande movimento politizado pelo voto
nulo. Mas, agora, em pleno primeiro turno, votar nulo é de uma caretice
total. É claro que não faremos a revolução apenas votando. Mas podemos
aproveitar o pleito para criar um problema institucional, com
representantes antiproibicionistas, que devem bater de frente com toda
essa representatividade, que pensa que o parlamento é uma monarquia.
Parlamentares que estão há décadas usando a democracia para deleite de
suas mordomias e toda essa caretice que assola o país. Manter a
assembléia legislativa como está, lotada das bancadas proibicionistas da
polícia e do fundamentalismo religioso, não vai abrir qualquer brecha
para uma crise institucional, eles vão continuar nadando de braçada.
O direito ao voto foi conquistado nesse país imenso, de bases
monarquistas e escravocratas, nas lutas das ruas por jovens que
enfrentaram a tortura, assassinatos e desaparecimentos da ditadura
civil/militar instaurada com o golpe de 1964, que depôs o presidente
eleito João Goulart. Meu pai, por exemplo, era proibido de votar na
ditadura, todos seus direitos políticos foram cassados nesse período,
sequer podia ser jornalista no Brasil. Minha tia Verinha saiu de cadeira de rodas banida do Brasil depois de ser barbaramente torturada no período Médici.
Para quem defende a legalização da maconha e o fim da farsa
da guerra às drogas, que é a guerra aos pobres, o voto nulo tem menos
sentido ainda. Se defendemos a legalização da maconha e de outras
substâncias proibidas, que é a mudança das leis, como vamos fazer isso,
se sequer votamos? Não teremos representantes onde são feitas
as leis? Como vamos mudar as leis? Por exemplo, compete ao Estado
legislar concorrentemente com a União sobre assistência jurídica e a
polícia, a segurança pública em geral. Vamos deixar esse debate apenas para a bancada proibicionista e punitiva?
Depois da nova geração tomar as ruas do Brasil, chegando a mais de um
milhão na avenida Presidente Vargas no Rio de Janeiro, vamos deixar um
dos quatro candidatos, que estavam escondidos em seus gabinetes durante
as manifestações, que foram ou são aliados políticos do Cabral, governar
o Rio de Janeiro? Ou vamos eleger o único candidato que estava nas
ruas, um professor do histórico e maravilhoso Colégio Pedro II, Tarcísio
Motta?
Muitas das manifestações terminaram na porta dos parlamentos
estaduais e municipais, pois a multidão exigia mudança nessas casas
legislativas. A mudança da ALERJ é importantiíssima e não podemos deixar
que ela continue como está. Não entre nessa modinha impotente do voto
nulo. Ainda mais agora, que as pesquisas apontam que 80% do eleitorado é
contra a legalização da maconha, não podemos jogar o voto fora. Temos
de buscar colocar nos parlamentos nossa representação para mostrar a
força e a maturidade do nossa luta.