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Profecia do ex-diretor da Petrobras era a de que não haveria eleição se
ele falasse; e desde a sexta-feira 29, ao Ministério Público, em
Curitiba, Paulo Roberto Costa está contando o que sabe; ele já teria
denunciado 61 parlamentares e 1 governador de Estado; caso tem todos os
elementos para alavancar os apelos de Marina Silva, do PSB, pela "nova
política", e dar novo ânimo ao PSDB, de Aécio Neves, para acirrar a
oposição contra o PT; a maior incógnita é como a presidente Dilma
Rousseff, em momento de recuperação na disputa, será impactada pelas
repercussões dessa delação premiada; ela conseguirá resistir?
A verdadeira bomba atômica disparada pela delação premiada do
ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa acertou em
cheio o Congresso Nacional. As primeiras informações sobre o conteúdo
dos depoimentos que ele vem concedendo ao Ministério Público, em
Curitiba, desde a sexta-feira 29, apontam para a citação de 61
parlamentares, entre deputados e senadores, um governador de Estado e
pelo menos cinco partidos políticos, envolvidos num esquema de propinas
de 3% nos contratos entre grandes empreiteiras e a estatal.
Em sua profecia, anunciada de dentro da prisão da Polícia Federal, no
Paraná, onde está desde março – ele experimentou um breve período de
liberdade em maio, mas voltou a ser encarcerado em junho --, Costa
disse: 'se eu falar, não vai ter eleição'. Ao que se vê pelo nervosismo
dos políticos, já se sabe que a sucessão presidencial ganhou um ar ainda
mais dramático do que o respirado até aqui.
Indicado pelo PP, em 2002, no início do governo Lula, para participar
da diretoria da estatal, Costa era ligado ao então deputado José
Janene, já falecido. É um exemplo em carne e osso de como se dá, e dos
riscos implícitos nela, uma política de coalizão. Já ficou provado que o
ex-diretor movimentou na Suíça uma conta com US$ 23 milhões em seu
nome.
Pela amplitude, a delação premiada de Costa tem todos os elementos
para dar mais combustível ao discurso de nova política praticado pela
candidata do PSB, Marina Silva. Empatada tecnicamente com a presidente
Dilma Rousseff, do PT, em primeiro turno, e ponteando as projeções para
uma segunda volta, Marina pode encontrar no escândalo um atalho para
escapar das críticas sobre suas alianças eleitorais e idas e vindas de
seu programa de governo. Entre plágios e improvisos, o texto de 242
páginas no qual Marina se apoia lhe deu, até aqui, muito mais dores de
cabeça do que elogios. Mudar de assunto seria perfeito para ela.
À medida em que nomes dos políticos envolvidos forem sendo revelados,
a denúncia de Costa também pode dar novo ímpeto à campanha do senador
Aécio Neves. Depois de ter sido abafado pelo surgimento de Marina, o
presidente do PSDB já espera ter nova munição com o surgimento de nomes
de políticos do PT, do PMDB e de outras agremiações da base aliada do
governo na denúncia de Costa. A expectativa de que os dois partidos
sejam atingidos é grande, uma vez que, ao todo, 61 parlamentares já
teriam sido citados pelo depoente premiado. Os tucanos, que estão na
oposição desde 2002, têm muito a comemorar diante do fato novo.
É a presidente Dilma Rousseff quem terá o maior desafio para tourear
as revelações que, a partir de agora, certamente começarão a despontar.
Apesar de Costa ter sido exonerado de suas funções na Petrobras, a
oposição obteve uma oportunidade de ouro para retomar o discurso de
ataques à administração da estatal. Numa fase de recuperação de sua
competitividade, Dilma e seu núcleo duro de campanha torciam para que os
ecos dos depoimentos de Costa só viessem a ser ouvidos no pós-eleição,
mas o que passa a acontecer a partir de hoje é exatamente o contrário. O
estrondo só tende a ser maior à medida em que se conheçam novos
personagens e detalhes do esquema de propinas em torno de 3% dos valores
de contratos entre empreiteiras e a estatal.
A eleição que recomeçou a partir da morte do presidenciável Eduardo
Campos tem agora, com a bomba atômica de Paulo Roberto Costa, mais um
momento de extrema tensão. Mais uma vez, a resistência eleitoral de
Dilma enfrentará uma prova de fogo. Talvez a maior de todas nesta
campanha dominada pelo imponderável.