CARLOS CHAGAS -
Pedro Simon caracterizou-se, desde os
tempos do velho MDB, como depois, no Senado durante trinta anos, por
dizer o que sempre precisou ser dito, mesmo incomodando adversários e
aliados. São dele os discursos mais críticos, candentes e incisivos
diante das grandes questões nacionais, atropelando governos e oposição,
ditadura e democracia.
Pois superou-se esta semana, num apelo feito da tribuna do Senado para que o bom senso volte a pairar sobre o país.
Diante da possibilidade de grupos de pressão
conturbarem a copa do mundo, hipótese a ser confirmada ou não a partir
de amanhã, Simon começou vergastando o que chamou de vaidade doentia do
ex-presidente Lula. Disse que a copa do mundo jamais foi prioridade para
nós, especialmente com a construção de suntuosos palácios que são os
estádios. Até denunciou a profunda megalomania do primeiro-companheiro,
que pretendia jogos da copa em todas as capitais, quer dizer, um novo
estádio em cada estado, implantados todos à custa de centenas de bilhões
de reais, recursos capazes de ser utilizados em hospitais, escolas e
obras de infraestrutura. Foi a Fifa que limitou as partidas a doze
sedes: “Por ser corintiano, o Lula impôs o Itaquerão, do Corinthians,
quando o Morumbi serviria muito bem, com um ou outro melhoramento”.
A seguir analisou as razões para a metade do país
haver-se insurgido desde junho do ano passado contra as omissões do
poder público. Nada mais natural e justo do que as manifestações de
protesto verificadas desde então, de Norte a Sul, ainda que ninguém
possa concordar com os excessos, as depredações e as invasões. Até por
conta disso muitos jovens tem refluído, mas o fundamental é registrar a
indignação nacional frente a governos desorganizados e omissos.
No entanto, apesar da
importância dos movimentos populares de protesto e da orgia praticada
pelo governo do PT ao trazer a copa do mundo para o Brasil, a verdade é
que ela vai começar. O planeta tem seus olhos voltados para o Brasil.
Contestar a nação organizada, perturbando a realização do certame
significará imperdoável ação, capaz de nos mostrar como país de última
categoria. As greves são até necessárias, em nome dos direitos do
trabalhador. Mas multiplicá-las nessa hora, fazendo-as coincidir com a
copa, com que objetivo?
A obrigação maior da sociedade é para com o país,
disse ainda Pedro Simon. E o interesse nacional não aceita a perturbação
que nos envergonhará, nesse momento. O Lula e a presidente Dilma
passarão, apesar de seus erros. O Brasil ficará. Não pode, assim, dar ao
mundo uma demonstração de intolerância e radicalismo. Pelo período em
que a copa acontece, suspender as hostilidades é dever de todos. Se a
competição não der certo, se for obstaculada, o prejuízo para nossa
nação será muito maior e definitivo.
O senador lembrou, por fim, que nos tempos da
ditadura foi chamado até de covarde, quando se insurgiu contra a luta
armada. Enfrentou quantos pretendiam mudar o regime pelas armas. Pregou a
volta à democracia pela firmeza da resistência. Deu certo. Agora, seu
apelo é para que durante a copa se interrompam as manifestações sociais
mais do que justas, em benefício de causa mais importante, a nossa
imagem a ser preservada interna e externamente.
A lamentar dessa verdadeira aula de coragem, ética e
democracia está o fato de que breve deixaremos de ouvir da tribuna do
Senado lições como mais essa, magistral e necessária. Simon decidiu não
se candidatar a mais um mandato, entendendo ser preciso dar a vez a
outros. Uma pena…