11.6.14

MAIS UMA VEZ A CORAGEM E O BOM SENSO

CARLOS CHAGAS -

Pedro Simon caracterizou-se, desde os tempos do velho MDB, como depois, no Senado durante trinta anos, por dizer o que sempre precisou ser dito, mesmo incomodando adversários e aliados. São dele os discursos mais críticos, candentes e incisivos diante das grandes questões nacionais, atropelando governos e oposição, ditadura e democracia.
Pois superou-se esta semana, num apelo feito da tribuna do Senado para que o bom senso volte a pairar sobre o país.

Diante da possibilidade de grupos de pressão conturbarem a copa do mundo, hipótese a ser confirmada ou não a partir de amanhã, Simon começou vergastando o que chamou de vaidade doentia do ex-presidente Lula. Disse que a copa do mundo jamais foi prioridade para nós, especialmente com a construção de suntuosos palácios que são os estádios. Até denunciou a profunda megalomania do primeiro-companheiro, que pretendia jogos da copa em todas as capitais, quer dizer, um novo estádio em cada estado, implantados todos à custa de centenas de bilhões de reais, recursos capazes de ser utilizados em hospitais, escolas e obras de infraestrutura. Foi a Fifa que limitou as partidas a doze sedes: “Por ser corintiano, o Lula impôs o Itaquerão, do Corinthians, quando o Morumbi serviria muito bem, com um ou outro melhoramento”.

A seguir analisou as razões para a metade do país haver-se insurgido desde junho do ano passado contra as omissões do poder público. Nada mais natural e justo do que as manifestações de protesto verificadas desde então, de Norte a Sul, ainda que ninguém possa concordar com os excessos, as depredações e as invasões. Até por conta disso muitos jovens tem refluído, mas o fundamental é registrar a indignação nacional frente a governos desorganizados e omissos.

No entanto, apesar da importância dos movimentos populares de protesto e da orgia praticada pelo governo do PT ao trazer a copa do mundo para o Brasil, a verdade é que ela vai começar. O planeta tem seus olhos voltados para o Brasil. Contestar a nação organizada, perturbando a realização do certame significará imperdoável ação, capaz de nos mostrar como país de última categoria. As greves são até necessárias, em nome dos direitos do trabalhador. Mas multiplicá-las nessa hora, fazendo-as coincidir com a copa, com que objetivo?

A obrigação maior da sociedade é para com o país, disse ainda Pedro Simon. E o interesse nacional não aceita a perturbação que nos envergonhará, nesse momento. O Lula e a presidente Dilma passarão, apesar de seus erros. O Brasil ficará. Não pode, assim, dar ao mundo uma demonstração de intolerância e radicalismo. Pelo período em que a copa acontece, suspender as hostilidades é dever de todos. Se a competição não der certo, se for obstaculada, o prejuízo para nossa nação será muito maior e definitivo.

O senador lembrou, por fim, que nos tempos da ditadura foi chamado até de covarde, quando se insurgiu contra a luta armada. Enfrentou quantos pretendiam mudar o regime pelas armas. Pregou a volta à democracia pela firmeza da resistência. Deu certo. Agora, seu apelo é para que durante a copa se interrompam as manifestações sociais mais do que justas, em benefício de causa mais importante, a nossa imagem a ser preservada interna e externamente.

A lamentar dessa verdadeira aula de coragem, ética e democracia está o fato de que breve deixaremos de ouvir da tribuna do Senado lições como mais essa, magistral e necessária. Simon decidiu não se candidatar a mais um mandato, entendendo ser preciso dar a vez a outros. Uma pena…