CARLOS CHAGAS -
Greve
se faz basicamente para reivindicar melhores salários e condições de
trabalho. De preferência, contra o patrão. Admite-se, também, a greve
política, quando as instituições se encontram em frangalhos.
Agora,
de greve para exigir a formação de um banco de dados unificado ou para a
criação de uma carteira de identidade única, como fizeram a Polícia
Federal, a Polícia Rodoviária e as Polícias Civis de 14 estados, nunca
se ouviu falar. Além de greves, depredações também estão acontecendo por
motivos fúteis. Em Guarulhos invadiram uma loja de fogos de artifício,
soltaram foguetes para todo lado, em especial sobre a polícia, e depois
informaram estar protestando porque a prefeitura local não implantou um
jardim, como prometera.
Não há
que espantar, assim, diante de greves e manifestações variadas em
protesto contra a realização da copa do mundo. Como se fosse possível
desmontar as estruturas materiais e morais erigidas. Somos o país dos
exageros. Atuam, mais do que justos, os movimentos dos sem-terra, dos
sem-teto, dos sem-emprego, dos sem-hospital e outros, mas do jeito que
as coisas vão logo assistiremos desfilarem os sem-lancha, os sem-jatinho
e as sem-diamantes.
Numa
espécie de febre tropical a sociedade dedica-se a demonstrar que pode
substituir as instituições vigentes, agindo para fazer o que elas não
fazem, quando não impondo justiça pelas próprias mãos. Ainda mais
aproveitando-se de um momento de fragilidade do governo por conta da
copa do mundo. Tudo o que Dilma não quer é ver prejudicado o certame.
Por isso, das mais diversas corporações surgem as ameaças de paralisação
de serviços. Inclusive aqueles que a ética e o bom senso proíbem, como
no caso das polícias. É chantagem, claro, ainda que poucas categorias
venham mesmo a cumprir o que anunciam. Pretendem, antes, tirar os
melhores proveitos da pressão, levando o poder público a atendê-las por
medo de cumprirem sua palavra.
Pode
ser que, terminada a copa do mundo, o governo se disponha a passar da
defesa ao ataque, enquadrando com a lei quantos se acham proibidos de
paralisar suas atividades. E deixando de atender reivindicações
absurdas.