CARLOS CHAGAS -
A
presidente Dilma prorrogou até o último dia de 2014 o prazo de
funcionamento da Comissão da Verdade. Salutar a medida é, pois permitirá mais
investigações a respeito de torturas, maus tratos e lesões aos direitos humanos
praticados por agentes do Estado durante o regime militar. Fica, no
entanto, um espaço a preencher: e aqueles que se levantaram contra a ditadura
utilizando os mesmos instrumentos e a mesma violência praticados por ela?
Porque também morreu e sofreu gente do lado de lá. Como inocentes
foram vitimados por ações de contestação aos donos do poder. Para não falar de
“justiçamentos” havidos entre eles.
É farta
a literatura a respeito dos abomináveis excessos registrados pelos donos do
poder, como surgiram também depoimentos variados a respeito dos abusos
verificados no campo oposto.
A
anistia apagou tudo, por mais amarga que seja, até hoje, para as vitimas e
suas famílias, assistir a impunidade dos algozes. De um lado e de outro,
diga-se, apesar do grau maior de horrores e de culpa recair sobre os que
se escondiam à sombra do poder público. Nem por isso, porém, justifica-se o
silêncio da Comissão da Verdade com relação ao reverso da medalha. Haverá
tempo agora, a partir da prorrogação do período de seu funcionamento.
Não se
trata de ver punidos com cadeia quantos foram responsáveis
pelos desatinos daqueles anos de chumbo. Não haverá como apagar o instrumento
legal que, apesar de imperfeito, permitiu ao país olhar para o futuro,
mesmo sem esquecer o passado.
Mesmo
assim o papel da Comissão da Verdade é fundamental na medida em que ilumina as
profundezas de um período deixado para trás. Apontar os responsáveis talvez
configure sentença tão implacável quanto teria sido condená-los à prisão.
Muitos jamais se convencerão de haver incorrido em crimes. De um lado e de
outro, vale repetir. Porque entre eles persiste um corporativismo
empedernido.
Uns por
entenderem haver servido à preservação de valores vigentes à época, mesmo
distorcidos. Outros por justificarem a insurreição violenta. Tanto faz. Apesar
de já conhecidos, estes e aqueles, o libelo da Comissão da Verdade, quando
exarado, daqui a um ano, servirá de alerta. Desde que traga a condenação moral
de todos os envolvidos.