JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
Bolsonaro é um homem valente que acaba de ser humilhando perante o Supremo. Wilson também é um homem valente que quer prender todo mundo, juntando sua autoridade de juiz com a de futuro governador. Os dois são farinha do mesmo saco. Foram beneficiados pela revolta do povo contra o desemprego e o subemprego, mas não tem proposta para mostrar com credibilidade como gerar empregos. Votar neles é um tiro n´água. No caso de Bolsonaro, ele próprio se enrolou e certamente perderá a eleição. Wilson vai na onda.
Aonde a vaca vai o boi vai atrás, diz a quadra popular. Wilson é um produto da crise fluminense arrastado pela súbita arrancada de Bolsonaro no final do primeiro turno. Achar que ele, de moto próprio, é que conseguiu tantos votos não passa de asneira. Entretanto, da mesma forma que subiu, tende agora a baixar na esteira de Bolsonaro. Vai limitar-se a sua insignificância política, na medida em que o povo acabará percebendo que ele, comparado com Paes, não tem qualquer competência ou experiência para governar o Estado.
O Rio de Janeiro é uma terra arrasada. Seus últimos dirigentes exageraram na corrupção, no compadrio político e na organização de verdadeiras máfias para sugar recursos do Estado. Entretanto, talvez muitos se surpreendam quando digo que o problema financeiro de fundo do Rio não é a corrupção, mas o saque contra os cofres do Estado promovido pelo Governo federal na forma de uma dívida inexistente e impagável. E não foi apenas contra o Rio. Foi contra quase todos os Estados, principalmente Minas e Rio Grande do Sul.
A incompetência específica dos governantes do Rio frente a sua crise financeira foi não ter exigido do Governo federal o reconhecimento da nulidade da dívida consolidada em 1997. Claro, se tivessem sido corajosos e coerentes arrastariam os outros Estados. Não. Preferiram rodar o pires pedindo esmola em Brasília, anualmente, a exigir seus direitos. Com isso, quando se juntam todos os Estados, da dívida imposta originalmente no valor de R$ 107 bilhões foram pagos até 2015 R$ 277 bilhões, restando a pagar nada menos que R$ 497 bilhões!
É um assalto contra os Estados. Se houvesse conhecimento técnico suficiente nos Estados e coragem política, eles se teriam juntado para criar um conflito federativo a fim de não apenas sustar o pagamento dessa dívida, como exigir o ressarcimento do que foi pago indevidamente. Com esse dinheiro os Estados poderiam fazer um programa keynesiano espetacular das zonas periféricas para os centros, e ajudar o Governo federal no Programa Cidade Cidadã, de reestruturação das comunidades das grandes cidades.
Não tenho grande simpatia pessoal por Eduardo Paes, mas acho que ele tem mais condições que um simples juiz federal para tratar dos assuntos administrativos do Rio. Wilson é a sombra do autoritarismo radical de Bolsonaro. E por sua história e pelo que diz, não entende absolutamente nada de administração. Sua eventual eleição sacrificaria por mais quatro anos um Estado e uma cidade estraçalhados. Entendo que, nas circunstâncias, Eduardo Paes seria uma solução que afastaria também o risco de uma administração fascista.
É claro que, para efeito do Programa Cidade Cidadã, o ideal seria uma articulação Governo federal-Governo estadual. Esse programa, também descrito como de Emprego Garantido, Trabalho Aplicado, é inspirado no programa Mahatma Gandhi de Emprego Garantido da Índia, tendo sido considerado um sucesso “estelar” no relatório de 2014 do Banco Mundial. Posso atestar esse conceito, pois fui duas vezes à Índia para ajudar a fazer uma avaliação do programa por parte de especialistas internacionais independentes. Fiquei fascinado e decidi adaptar o programa para o Brasil, o que espero aconteça em 2019.