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Ao receber 1.022.910 de votos (57,60% dos votos válidos) e derrotar o candidato Carlos Eduardo (PDT) na eleição para o governo do Rio Grande do Norte, a senadora Fátima Bezerra (PT-RN) colocou fim à oligarquia que se revezava no poder há praticamente seis décadas.
"Este é o significado maior da vitória de Fátima", avalia o cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Homero Costa. "A vitória é muito importante para o estado. Pela primeira vez, uma mulher de origem popular consegue derrotar as oligarquias do estado, que teve hegemonia nas sucessões para governador durante praticamente 60 anos".
De acordo com Costa, desde que veio da Paraíba Fátima logo se integrou aos movimentos populares, de professores, foi dirigente sindical e se destacou como deputada estadual por dois mandatos (1995-2002). Exerceu mais três mandatos como deputada federal (2003-2014) até assumir uma cadeira no Senado. E como senadora, foi extremamente bem avaliada pelo povo potiguar, o que se expressou na sua liderança desde o inicio desta campanha eleitoral conforme as pesquisas eleitorais, que se confirmaram.
O professor considera provável que a governadora recém-eleita encontre alguma resistência na Assembleia Legislativa, onde ela não tem maioria. "Mas ela tem grande habilidade política e o Legislativo, a exemplo de outros, está muito fragmentado, com representação de 15 partidos. O PT e a base aliada que a elegeu são minoria, mas com sua habilidade ela pode construir essa maioria. Tenho certeza de que ela vai conseguir fazer isso. Fátima dialoga bem, não é intolerante nem intransigente. Resta saber como vai se dar esse processo com a Assembleia", disse o cientista político.
Outros grandes desafios estão relacionados a problemas em diversas áreas, como segurança, saúde e educação. "Acredito, porém, que ela terá toda condição e uma equipe qualificada para ajudá-la a governar o estado."
Homero Costa lamenta a derrota do candidato do PT, Fernando Haddad, na disputa para a Presidência da República. Para ele, é uma grande tristeza ver tamanho projeto, vitorioso no Nordeste inteiro, sair derrotado no total das urnas. "No entanto, aqui houve uma grande alegria. E espero que seja um contraponto no processo da política nacional a atuação de Fátima e dos outros governadores nordestinos. E que suas bancadas possam, enfim, ser uma base de apoio para enfrentar os retrocessos que se anunciam."
Mulheres - O movimento feminista também comemorou o resultado no Rio Grande do Norte. Única mulher a se eleger governadora em 2018, a professora eleita deputada estadual pela primeira vez em 1994 e que desde então teve uma trajetória bem avaliada na política é também referência para o movimento LGBT.
"Fátima é uma grande representante da mulher, negra, lésbica, com origem nos movimento trabalhista", disse a ativista Cris Flor, integrante do Coletivo Autônomo Feminista Leila Diniz.
Segundo ela, a eleição de Jair Bolsonaro (PSL), que é conhecido principalmente pela perseguição a tudo o que Fátima Bezerra representa, não preocupa.
"As mulheres se sentem representadas. Ela tem o punho forte, tanto que quebrou a hegemonia da oligarquia que se instalou no governo do estado por tantos anos. Por isso acreditamos que, além da atenção que seu governo dará à educação, pela sua própria trajetória profissional, ela deverá contemplar também as demandas das mulheres e da comunidade LGBT", disse Cris Flor.
Bancada substituída - Com a posse de Fátima no governo, a partir de 2019, o Senado perde uma integrante da bancada feminina, já sua cadeira será ocupada pelo suplente Jean-Paul Prates (PT). Prates, empresário ligado ao setor de energia, terá mais quatro anos de mandato pela frente, tendo agora como suplente Theodorico Bezerra Netto (PCdoB).
Outros dois atuais senadores pelo estado também estarão fora. Garibaldi Alves (MDB) não se reelegeu e José Agripino Maia (DEM) renunciou para disputar, sem sucesso, eleição para deputado federal. Em seus lugares foram eleitoso capitão Styvenson Valentim (Rede) e a dra. Zenaide Maia (PHS).
Fonte: CUT