27.10.18

A LUTA FINAL ENTRE ARROGÂNCIA E HUMILDADE

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Estamos assistindo à luta final entre a arrogância, marca registrada do candidato Jair Bolsonaro, e a humildade de Fernando Haddad, que tem mostrado ao longo da campanha propostas consistentes de governo sem esconder os erros passados do PT. A culpa é um fato individual. Ninguém pode ser condenado a vida toda pela culpa de outros. A antiga cúpula do PT, principalmente seu braço de arrecadação financeira, errou barbaramente. Haddad reconheceu isso, pediu desculpas e foi em frente, confiando na parte sã do partido.

Confiou certo. O PT, inspirado por Lula, o colocou no segundo turno. Agora, porém, não basta a força do partido e nem de Lula. E não é também o caso de confiar em alianças formais com outros partidos como PDT e Rede, pois os eleitores do primeiro turno não se transferem automaticamente no segundo ao comando de lideranças. Agora o que vale, como sempre, é a comunicação direta com o eleitor através da mídia e das redes sociais. É nesse campo que vai dar-se a luta final entre a arrogância de Bolsonaro e a humildade de Haddad.

Os dois são autênticos. Dizem exatamente o que pensam. E é por isso que votar em Bolsonaro é uma temeridade. Um médico amigo me garantiu que o candidato da arrogância deveria, para o bem da República, ser submetido a um exame psiquiátrico de sanidade mental. Isso já não é tão urgente na medida em que a onda Bolsonaro parece ter passado. De qualquer forma, tendo em vista eleições futuras, não seria nada mal que todos os candidatos à Presidência venham a submeter-se a exames desse tipo.

A raiz da palavra arrogância deriva de um comportamento egoísta onde a pessoa reduz todas as coisas e todos os valores ao interesse próprio. Humildade, ao contrário, é a pessoa que se coloca numa posição sempre modesta, como se estivesse junto à terra. Esses valores opostos estão na campanha eleitoral de 2018 de forma absolutamente cristalina. Basta ligar a televisão no horário eleitoral que é possível reconhecer a fala arrogante, truncada e fragmentada de Bolsonaro, e o discurso coerente e humilde, mas firme, de Fernando Haddad.

É claro que há no comportamento de Haddad um cálculo político: o PT e seus aliados não o elegeriam sozinhos. Isso, contudo, tem grandes vantagens. Primeiro, reduz a tentação do PT de assumir uma atitude arrogante quando chegar a hora de compor o governo, na medida em que seus líderes sabem que tiveram de suar frio para buscar os votos que seriam necessários para virar o jogo eleitoral. Aqui também se faz presente outro fator de humildade: caso prevaleça ou venha a prevalecer a arrogância do PT, Haddad não conseguirá governar.

Uma vez confirmada sua vitória eleitoral, Haddad, a meu ver, deveria convocar tão cedo quanto possível um grande Pacto Social para restaurar a unidade nacional, a ser ancorada não em palavras, mas num grande plano econômico de promoção do Pleno Emprego. Com isso seria possível iniciar o processo de reconstrução da unidade nacional, absolutamente fragmentada por Jair Bolsonaro, que ousa falar em unir o Brasil por cima de um verdadeiro vácuo propositivo. O fato é que não pode haver Pacto Social sem justiça social.

Aos 70 anos, com larga experiência em Economia Política, já posso dar conselhos, mesmo a presidentes eleitos: Haddad, comece a governar com um Ministério majoritariamente tecnocrático. Isso evitará as querelas entre partidos, inclusive do PT e do PCdoB, na composição ministerial e ajudará a limpar a área no Congresso, eliminando competições por cargos do primeiro escalão. Tecnocracia, porém, não é ausência de posição ideológica. É preciso varrer do governo todos os resquícios do neoliberalismo.