28.9.18

O ASSALTO AO CAIXA NA ESTRATÉGIA DE CAMPANHA DE MEIRELLES

JOSÉ CARLOS DE ASSIS -


Não era minha intenção comentar o desempenho de Henrique Meirelles nesta campanha. É um lixo político. Deve ser descartado como tal. Apropriou-se da legenda do PMDB para tomar conta do caixa eleitoral de cerca de R$ 300 milhões. Sabia perfeitamente que não tinha qualquer chance de eleger-se. Entretanto, não é um idiota. Tinha segundas intenções. Uma estritamente financeira e outra de puro oportunismo político.

Financeiramente, entrou em conluio com caciques partidários que deveriam estar na cadeia para provavelmente rachar com eles o infame fundo eleitoral que premia qualquer bandido que tome conta do caixa. Mas há um lado ainda mais pernicioso que é a apropriação ideológica da própria economia política brasileira. De fato, apesar de sua pobreza intelectual, Meirelles, desde o governo Lula, foi o mestre inconteste de nossa economia.

Sua presença na campanha é puramente funcional. Ele quer se manter numa posição de destaque para defender a política fiscal-monetária do Tesouro e Banco Central. Em outras palavras, espera dar continuidade à política que introduziu em 2002 sob a sombra de Lula e que resultou na transferência até hoje de bilhões e bilhões de reais para o sistema financeiro, gratuitamente. Meirelles ficou em posição chave para gerir esse esbulho.

Vou lhe dar um exemplo de como funciona na prática essa política comandada pelo Banco Central, a mais criminosa das instituições públicas brasileiras. Há poucos dias o Banco alegou leves pressões inflacionárias para justificar uma possível alta de juros. A razão para isso seria a necessidade de evitar a inflação. Qual seria a fundamentação técnica disso? Pura empulhação. É simples desculpa para transferir bilhões de reais para os ricos.

Quer a fundamentação técnica da posição oposta a esta? Só existe uma possibilidade de inflação numa economia em regime normal: quando a demanda é maior que a oferta, isto é, quando há uma pressão de demanda sobre o sistema produtivo que se traduz em aumento de preços. Ora, a economia brasileira está em profunda recessão. Não há a menor possibilidade de, pelo menos por enquanto, a demanda ultrapassar a oferta.

Quando a economia se recuperar, isto é, quando acabar a recessão ou depressão na qual nos encontramos, será conveniente aumentar moderadamente a taxa básica de juros para arrefecer a demanda. Esse é o processo normal em todos os países nos quais o banco central tem responsabilidade com o fornecimento de dinheiro suficiente para o crescimento econômico e para a redução do desemprego.

Essa zorra que virou a política monetária brasileira se deve, em última instância, a uma técnica infame de gerenciamento monetário que se chama modelo de metas de inflação, introduzido por Armínio Fraga, no governo Fernando Henrique, e estabilizado por Meirelles no governo Lula, complementado depois no governo Dilma. É impossível calcular quanto dinheiro foi desviado para os ricos pela política monetária nesse período. E o processo continua.

Sabendo de antemão que não será eleito presidente da República, Meirelles quer ser, na verdade, o guardião da moeda em pleno conluio com o mercado financeiro. A marca que imprimiu ao Banco Central é indelével. Ingênuo é quem pensa que ele busca a Presidência da República. Isso daria muito trabalho. Teria de enfrentar questões sociais extremamente complexas, oriundas do próximo sistema financeiro dilapidador dos recursos nacionais.

Para Meirelles, que tem uma vocação indiscutível para o enriquecimento pessoal, mais do que a Presidência o bom mesmo é controlar o Banco Central, seja diretamente através de sua presidência, seja através do Ministério da Fazenda. Por isso está na tocaia de um novo cargo nele, talvez com Bolsonaro. Estão menos felizes os candidatos a deputado federal e senador do PMDB cujos caixas de campanha foram limpados por Meirelles.