ANA CLARA SALLES -
Nesta sexta-feira, 22 de junho de 2018, ocorreram
marchas pela legalização do aborto movida por mulheres pelo Brasil. No Rio de
Janeiro a marcha teve início às 17 horas na Alerj, com muitas companheiras de
luta presentes para a luta nessa pauta de extrema importância referente à vida
das mulheres.
A questão do aborto
no contexto brasileiro encontra-se em um estado crítico de perda de vidas, se
tratando de uma questão de saúde pública, e um direito sobre o próprio corpo.
As mais atingidas pela ilegalidade são as que não têm condições financeiras e
sociais de pagar uma clínica clandestina para uma operação que não tenha risco
para a mulher. Sendo assim diariamente, quatro mulheres morrem nos hospitais
por complicações no processo de aborto. Isto são dados oficiais, nos quais
tiveram acesso a casos que tenham um envolvimento do sistema de saúde, se
incluir os casos de mortes em clínicas ou lugares de aborto clandestinos esses
números aumentam de forma muito gritante.
Criminalizar o aborto não diminui a
prática, principalmente na situação social de mulheres que lutam todos os dias
sem direitos sociais básicos, como saúde, educação, moradia e etc. A mulher
fica jogada na clandestinidade, seu corpo é a escolha de parlamentares homens
brancos que dizem “valorizar a vida” matando as vidas que já existem. O
argumento de cunho religioso, sobre estar matando uma “alma” ou qualquer
definição do gênero, se encontra desprovido de atenção à situação e do contexto
dessas mulheres, que morrem por não terem condições de conceber uma criança. As
leis brasileiras sobre aborto são uma agressão à vida e a liberdade do corpo
feminino, conservadoras, retrograda e baseadas no patriarcado e no machismo nosso
de todos os dias. Esses sistemas de opressão estão muito bem enraizados em
nossa cultura e legislação.
As marchas feministas (frisando que essa palavra significa a
igualdade de direitos entre os gêneros) e todas as lutas do sexo feminino são
de extrema importância para mudanças efetivas no sistema brasileiro, incluindo
que nos últimos dias ocorreu a legalização em outros países, como Argentina e
Irlanda, e isto reverberou a pauta do aborto no resto do mundo. O ato carioca se concentrou na Alerj e se
direcionou para Cinelândia, manifestando com gritos de guerra feministas e
sobre todo o contexto da legalização, o percurso foi tranqüilo, embora a
caminhada tenha sido estranhamente rápida, não houve confusão, e os Policiais Militares
se misturavam na multidão de mulheres tirando as clássicas fotos dos rostos de
manifestantes. O que também deve ser levado em conta é que estava havendo na
mesma hora um ato anti-aborto na Candelária (onde antes estava marcado o ato
pela Legalização), enquanto mulheres gritavam pela justiça da morte das irmãs e
companheiras, majoritariamente um grupo de homens brancos com comportamento
extremista, alguns fascistas, às chamavam de assassinas espalhando cartazes
contrários a causa da legalização.
O questionamento dessa marcha feminista
ignorar essa situação ficou no ar, os gritos de não violência enquanto eles
continuam dissipando mensagens que matam milhares de mulheres? Fica o
questionamento e a autocrítica. Quando a multidão foi espalhando-se pela Praça
da Cinelândia e ajeitando cartazes nas escadarias, o clima estava mais tenso,
primeiro com os PMs intervindo em manifestações como apagar os cartazes
anti-aborto, ideologia de gênero e etc, que tinham sido postos pelo grupo que
se reuniu na Candelária e mensagens pichadas de forma clássica durante a
maioria dos atos. Houve a queima de um boneco, que parecia muito familiar com o
golpista Temer, escrito MACHO, mais uma tentativa de pichação, sendo o limite
para a PM fazer um cordão na escadaria e no fundo da praça, desfazendo a formação
das manifestantes. Não houve maiores problemas do que ameaças, e com o tempo o
ato foi esvaziando. Embora tenha sido um ato “pacífico”, foi com um custo de
opressão muito grande. Essa paz feita de opressão encontra-se na falácia de uma
intervenção militar. O povo precisa lutar pelos seus direitos, e a revolução
será feminista!