MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND -
É lamentável a informação que vem sendo divulgada segundo a qual o serviço de inteligência do Exército está monitorando a movimentação relacionada com os atos de caráter democrático que deverão acontecer em Porto Alegre em função do julgamento pelo TRF4 de um recurso sobre o veredicto do juiz Sérgio Moro que condenou Lula pelo triplex do Guarujá. Soma-se a isso a solicitação do Prefeito da capital gaúcha, Nelson Marchezan Júnior, do PSDB, solicitando o envio de contingentes militares à cidade no dia 24.
Na verdade, Marchezan e o serviço de inteligência do Exército, que deveria se ocupar, por exemplo, da entrega das riquezas do país às multinacionais, estão repetindo o esquema da época da ditadura empresarial militar em que qualquer manifestação era reprimida e antes monitorada pela inteligência militar.
É preciso avisar ao prefeito Marchezan e seus seguidores que os tempos sombrios daquele período que esteve em vigor durante 21 anos terminaram e que a população brasileira não quer de forma alguma voltar a viver em estado de exceção. É isso que é necessário combater, porque se nada for feito nesse sentido, em pouco tempo o Brasil voltará aos tempos abomináveis ocorridos após o golpe de estado de 1964.
Na verdade, já há indícios fortes que o país está mergulhado em um estado de exceção com o advento do novo golpe ocorrido em 2016. O atual governo, totalmente ilegítimo, vale sempre enfatizar, leva adiante um projeto repelido pelo povo e que só se manterá através do uso da força. O próximo dia 24 de janeiro em Porto Alegre poderá ser um ensaio das forças golpistas contra manifestações populares legítimas.
E ao que tudo indica o esquema em questão começa com advertências e pedidos do tipo feito pelo prefeito de Porto Alegre, por sinal herdeiro do pai, Nelson Marchezan, que prestou inestimáveis serviços à ditadura.
O primeiro momento da escalada é procurar incutir o medo aos setores populares dispostos a se manifestar. Aí a escalada aumenta até desembocar na repressão se as advertências anteriores não surtirem efeito, ou seja, não ocorrer a desmobilização.
A melhor resposta a toda essa escalada governamental com o auxílio da inteligência do exército é não esmorecer, ou seja, continuar a preparar a mobilização e demonstrar aos defensores do estado de exceção que o jogo deles não surte efeito. É preciso também denunciar o que pretendem, ou seja, evitar que o julgamento seja realizado de uma forma que o acusado, no caso o ex-Presidente Luis Inácio Lula da Silva, não possa vir a ser absolvido.
O objetivo dos golpistas, sobretudo dos militantes do PSDB como o prefeito Marchezan Júnior, é cristalino, ou seja, evitar que Lula venha a ser candidato à Presidência da República. Mas se não der certo esse esquema de arbítrio, os golpistas já têm preparado uma nova operação, qual seja, o aprofundamento do golpe com a aprovação, sem consulta popular, de uma mudança de regime do presidencialismo para o parlamentarismo ou semipresidencialismo, objetivando tão somente tirar os poderes do escolhido pelo povo.
Esse é o quadro que se apresenta. Para ser neutralizado é necessário que a população reaja e não se atemorize com as ameaças de aprofundamento do estado de exceção e com o que anda dizendo Marchezan Júnior e o serviço de inteligência do Exército.
Ao mesmo tempo, as mesmas forças que estão entregando as riquezas nacionais, o pré sal, por exemplo, seguem tentando levar adiante o projeto pernicioso aos interesses nacionais. Para tanto se valem da escalada verbal ameaçadora, como se o papel do Exército voltasse a ser o mesmo da época da ditadura.
* Via e-mail/Mário Augusto Jakobskind, é Professor, Jornalista, Escritor, vice-presidente na Chapa Villa-Lobos, arbitrariamente impedida de concorrer à direção da ABI (2016/2019) e Coordenador de História do IDEA, Programa de TV transmitido pela Unitevê - Canal Universitário de Niterói.