LUIZ ANTONIO SIMAS -
A) Do parente emotivo e piadista que cisma em agregar a família com o "amigo oculto", tentando reconciliar gente que se detesta há três gerações.
B) Da tia que anuncia no Natal a proximidade da própria morte e estraga a ceia. A frase “ano que vem acho que não estarei mais aqui” é a preferida da personagem, que costuma enterrar a família inteira.
C) Dos bebuns de dezembro, aqueles que tomam em um mês os porres que não tomaram o resto do ano e viram o fio no terceiro copo. Eles se dividem em categorias: sensíveis, dramáticos, ressentidos, agregadores, violentos, engajados, suicidas, homicidas, indignados e oradores inflamados.
D) Dos funcionários que se soltam na festa da firma. Bebem, dançam o som da moda, ameaçam tirar a roupa e terminam vomitando em alguém.
E) Do chato com voz de trovão; aquele que atrapalha o jantar de todo mundo narrando o amigo oculto do trabalho no restaurante, numa mesa com cinquenta pessoas, como se fosse um comício: “Eu acho que sei quem ela tirou! Quem? Quem?!”
F) Do homem-lista; aquele que te constrange com listas para auxiliar o Natal do entregador de jornais que você não assina, da manicure que nunca fez sua unha, do papa-defunto, do guardador de carro (mesmo que você não tenha carro), etc.
G) Do padre cantor; aquele sacerdote até então desconhecido, depilado e com gel no cabelo, que vira subitamente astro pop ao gravar Então é Natal, fazendo releitura da Simone, ao lado de um coral de crianças.
H) Das pessoas que respondem ao chato da letra E.
I) Do Roberto Carlos sendo surpreendido, como nos últimos quarenta anos, pela presença do Erasmo, entrando no palco ao som de Amigo, no especial de Natal.
J) Você é um dos personagens acima listados.
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Trecho de uma crônica do meu livro Coisas Nossas
Em dezembro do ano passado presenciei uma cena notável. Estava tomando uns birinaites, no início da noite, no Columbinha, na Haddock Lobo, quando observei um garoto tendo um ataque na calçada, diante dos pais. O pequeno visigodo gritava, no chilique, que queria ver imediatamente a árvore de Natal da Lagoa.
Aproximou-se dele, com grande tino psicológico, um sujeito com pinta de oriundo do cangaço e cheio de cangebrina. O cidadão disse ao moleque: “Vou te mostrar uma iluminação muito mais bonita que a da árvore da Lagoa, que é mixuruca. Olha lá.”
E apontou para o Motel Palácio do Rei, do outro lado da rua, que acendia naquele momento um letreiro feérico, com um efeito especial de pisca-pisca que desenhava a silhueta do Papai e da Mamãe Noel em trajes sumários.
O auge da performance foi quando os pinguços do Columbinha aplaudiram o letreiro do motel com a mesma sensibilidade e integração à natureza com que a turma descolada do Posto Nove aplaude o pôr do sol.
O menino sorriu. (via Facebook)