21.12.17

PIADAS

MIRANDA SÁ -

“Toda anedota, no fundo, encobre uma verdade” (Sigmund Freud)


Na minha infância, as “piadas” eram chamadas “anedotas” ou “pilhérias”, motivo de dar risada pelo relato engraçado de um fato surreal, absurdo, ou distorcendo a realidade de modo caricato. Para o meu gosto, sempre achei as ingênuas melhores…

O besteirol é para mim como os espetáculos circenses, dando-nos um enorme prazer assexuado. Adivinhações, analogias, apelidos, críticas políticas, imitações, paradoxos, relações de semelhança entre desiguais e trocadilhos me agradam mais do que as “piadas sujas” preconceituosas ou atentados à moralidade e ao pudor.

Eu acreditava, na minha pré-adolescência naquilo que se convenciona chamar de “opinião pública”. Talvez por influência do meu pai que tirava conclusões pelo cotejo na leitura dos jornais da época, comprando vários deles, desde o conservador Correio da Manhã à Tribuna Popular, comunista; do Diário de Notícias, liberal, ao integralista “A Marcha”.

De formação positivista, papai ensinava que a opinião pública se firmava na sentença “a voz do povo é a voz de Deus”…  Ah, se vivesse nos dias atuais e lesse os jornais de hoje! Com seu humor irônico, Millôr Fernandes descreve o que a imprensa é:  “Às vezes a única verdade que encontramos nos jornais é a data”; uma piada que retrata uma realidade.

Eu acrescentaria que a piada desenhada como charge, também se salva na mídia impressa, assim como os programas humorísticos da televisão. Ri outro dia quando ouvi o comentário: – “Big Brother” de menino é buraco de fechadura”.

Não é por acaso que a força das piadas é reprimida pelas ditaduras…. E, por falar de ditaduras – que abomino, seja de direita ou de esquerda, civil ou militar – registramos prisões de humoristas e cômicos em Cuba e na Venezuela; mas registro historicamente uma exceção: a ditadura Vargas.

Getúlio gostava de anedotas, mesmo com referência a si próprio; ria das caricaturas e das comédias teatrais onde muitas vezes era imitado e que pessoalmente assistia no Teatro Recreio…

Eu adoro os humoristas e talvez por isso sou fascinado pelos que têm o dom daquilo que se chama “presença de espírito”; a pronta resposta inteligente e vivaz de pessoas, sejam analfabetas ou cultas, e de crianças inocentes. As piadas do Juquinha são fascinantes!

É engraçado um médico aconselhar ao paciente para não se aborrecer, manter a calma, relaxar e repousar, como se se pudesse encontrar comprimidos, xaropes ou injeções para atender cada uma dessas prescrições…

Igualmente como brincadeira, considero uma piada quando aquelas moças e moços figurantes de novelas da TV-Globo, com rápidas passagens de transeuntes ou como o garçom que não fala, se considerarem “artistas” e assumindo o direito a dar pitacos na política e na economia.

Falar em artista, lembrei-me que no mundo do cinema corre uma história dos anos 1930, quando a crise nos EUA obrigou Hollywood a patrocinar shows, e um deles o concurso sobre imitadores de Carlitos.

Além dos inúmeros amadores, vários atores cinematográficos se candidataram e um notável entre eles tirou o oitavo lugar pela apreciação dos jurados, e 12º lugar classificado com os votos do público. Sabem quem foi ele? Charles Chaplin, em pessoa, que concorreu incognitamente. Não parece piada?

Atualmente no Brasil, evoca-se a presença de militares no poder a fim de varrer a corrupção dos políticos e repor o País nos trilhos. Peço aos defensores da intervenção militar para me apontar entre a oficialidade atual um Golbery, um Aurélio Lira Tavares, um Meira Matos, um Castelo Branco, um Mourão Filho… A ESG ainda existe?

De militares lembro a piada do general Góis Monteiro. Visitando a Alemanha nazista ele assistiu um oficial das SS – para mostrar a obediência e lealdade do soldado alemão – ordenar que um deles se atirasse do alto de uma torre.  E o cara pulou para a morte.

Chegando ao Brasil, Góis resolveu testar a formação dos recrutas do 1º Exército e lá no Forte São João deu a ordem a um deles para pular de certa elevação do Morro da Urca; ouviu, então, do malandrinho carioca: – “Meu general, o senhor já está bêbedo a essa hora? ”