21.10.17

ROCINHA: TRINTA ANOS DE MUITO SANGUE E MUITAS PROMESSAS

ALCYR CAVALCANTI -


A "Maior Favela da América do Sul" como é conhecida por seus mais de 120 mil moradores, se não é a maior é sem sombra de dúvida a mais bela de todas. O por do sol do alto da Rua Um, ou do Laboriaux é inenarrável, quem viu pode se orgulhar de ter vivido um dos mais belos espetáculos de todo o planeta, mas infelizmente isto só é possível com a autorização do eventual dono do morro, principalmente quando a disputa pelos pontos de venda de drogas se transforma em uma disputa de sangue, como nos dias de hoje entre o bando de Rogério 157 e o bando de Antônio Bonfim Lopes o Nem.

A "Mina de Ouro" como foi chamada pela detetive inspetora Marina Magessi sempre foi alvo de uma disputa entre grupos que desejam o monopólio da exploração do comércio de venda de drogas, a varejo, na imensa favela e das altíssimas taxas de lucro, milhões de reais conforme afirmação do governador Luiz Fernando Pezão , conhecedor dos problemas da Rocinha. Desde a "Era Denys" nos anos oitenta que assumiu o controle após afastar seus concorrentes, e se livrar de seu principal opositor o nordestino Zé do Queijo, que invasões, seja por parte do aparato repressivo do Estado, seja por redes criminais contrárias, que o medo impera na localidade. Muitas disputas entre redes criminais pelo controle das inúmeras "bocas de fumo" se sucederam ao longo das três décadas. Quem não se recorda da disputa de sangue entre Luciano Barbosa da Silva o Lulu ou Bigode para os mais chegados e Eduíno Eustáquio o Dedé que começou em uma Semana Santa de abril de 2004, e deixou um rastro de destruição. Assim como agora, nos novos tempos envelhecidos do século XXI Lulu era da rede criminal ADA e Dedé do Comando Vermelho, no fundo uma luta entre facções.

Comecei a ver e sentir ao vivo e a cores os inúmeros problemas que afligem um número incontável de moradores na cobertura para o Jornal do Brasil, em novembro de 1987, do enterro de sua líder comunitária Maria Helena pranteada até os dias de hoje. Uma localidade considerada como bairro por um decreto, mas que tem inúmeras áreas características de favela, em seus inúmeros becos e vielas insalubres totalmente sem urbanização. Muitas promessas foram feitas seja pelos presidentes, governadores ou prefeitos que se sucederam ao longo dessas três décadas mas muito pouco ou quase nada foi cumprido. Os sucessivos programas de crescimento PAC-1, PAC-2, PAC-3 foram alardeados em muita festa, mas muito pouca coisa foi feita, o PAC-1 que veio a trazer muitas esperanças tem ainda obras incompletas e outras que não saíram do papel, embora R$ milhões tenham desaparecido como em um passe de mágica. As obras em continuação do PAC-2 e PAC-3  talvez nunca mais sejam realizadas.

Trinta anos de promessas, muitas promessas vem aí mais uma eleição, novas mentiras vão ser despejadas com o auxílio de inescrupulosos moradores locais, que talvez não sejam tão inescrupulosos, mas iludidos e quem sabe apenas desesperados por tão ter a quem recorrer. Os milhares de trabalhadores que residem em seus dezessete sub bairros em mais de 26 mil unidades habitacionais e sentem na própria carne mais uma invasão, mais uma luta fratricida,  continuam sonhando com a tão desejada Paz. Só esperam que uma pequena parte das promessas feitas, de maneira irresponsável pelos governantes das três esferas sejam cumpridas, para enfim poderem viver como qualquer cidadão dessa imensa bela e ao mesmo tempo caótica e às vezes imunda Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, e como diria o poeta Cidade Maravilha da Beleza e do Caos.