26.7.17

SISTEMA CAÓTICO DE TRANSPORTES NO RIO DE JANEIRO

JOÃO CLAUDIO PITILLO -


Em uma década a cidade do Rio de Janeiro recebeu grandes investimentos para melhorar a sua mobilidade e estar à altura das grandes cidades do mundo que receberam Pan Americano, Copa do Mundo, Olimpíada e outros eventos esportivos, culturais e comerciais de grande porte. Passado todos esses eventos, devemos nos perguntar se essas obras realmente melhoraram a mobilidade na cidade e se o legado na área do transporte público foi condizente com o dinheiro investido.

Uma breve investigação sobre os trens urbanos, que conectam a cidade do Rio de Janeiro à Região Metropolitana, mostra que as estações continuam sujas, sem banheiros e com dificuldade em acessibilidade. Os intervalos das composições são longos e os trens obsoletos, que não operam 24 horas. O investimento que fora feito partiu do Estado, que graças a um edital de privatização lesivo aos cofres públicos, a empresa SUPERVIA, fica com o lucro da operação e o Estado com a obrigação de investimento e ampliação. Há décadas que não se coloca um metro de trilho novo para a expansão da malha ferroviária em nossa cidade.

Quando o assunto é ônibus, temos a cidade do Rio de Janeiro com os seus ônibus funcionando sob o comando de uma máfia chamada FETRANSPOR. Uma associação de empresários de ônibus que atuam de forma cartelizada, prestando um serviço ruim e caro aos cariocas. No ano de 2016, ganharam o direto de reduzir a sua frota de ônibus que ligavam as Zonas Norte e Oeste à Zona Sul de forma direta, reintroduzindo a velha “baldeação” do inicio dos anos 80, onde os passageiros eram obrigados a pegar duas conduções para cruzar a cidade. Esses mesmos empresários receberam de presente do Estado, o direito de explorar o BRT (sigla em inglês de Sistema Rápido de Transporte por ônibus). Mais um projeto obsoleto que serve para engordar as contas dos empresários e obrigar o carioca a ser mal transportado. Já que esse sistema não garante mobilidade barata, segura e abrangente para a população.

Em uma cidade que é banhada por uma grande baia que cobre várias outras cidades da Região Metropolitana, é justo perguntar por que não temos sistemas de barcas e lanchas conectando a cidade do Rio de Janeiro à São Gonçalo, Duque de Caxias, Magé e adjacências. O que temos é um sistema de barcas que liga a cidade do Rio de Janeiro à Niterói somente, a um preço exorbitante e que não funciona 24 horas por dia. Nem com a famosa e procurada Região dos Lagos, a cidade do Rio de Janeiro tem ligação por transporte oceânico. Podemos notar que o transporte marítimo e ferroviário em nossa cidade é sub-explorado em detrimento do transporte rodoviário.

O metrô da cidade do Rio de Janeiro é outro exemplo ineficiência. Mesmo sendo pequeno e caro, o METRÔ-RIO recebeu aportes faraônicos em virtude dos grandes eventos já citado, porém o superfaturamento e o projeto elitista, fez com que a malha continue ineficiente para as demandas da sociedade. O primeiro problema foi a criação de um “Y” na ligação das estações São Cristóvão e Cidade Nova, onde as regras de segurança internacionais foram ignoradas e o projeto original rasgado. De forma irresponsável colocaram dois trens distintos operando na mesma linha. O que estava ruim piorou com a negativa de se levar o metrô para a Baixada Fluminense, resolveu-se
estendê-lo em direção à Barra da Tijuca, porém, sem passar pelo Terminal Alvorada, local de grande concentração de linhas de ônibus. O projeto metrô para os emergentes se mostrou um fracasso, além do superfaturamento, a pouca demanda da região o transformou em uma obra sem fim social e sub-aproveitada.

Os táxis da cidade também passaram a ter problemas, sem investimento e fiscalização do poder publico, eles sofrem com a insegurança e com a concorrência desleal dos “aplicativos piratas” e dos “táxis bandalhas”. Conhecido mundialmente pela sua cor amarela e por ter motoristas bons de papo e conhecedores de toda a cidade, o “amarelinho” corre o risco de ser sucateado e desaparecer, devido a conivência da prefeitura e do judiciário com os aplicativos de carros particulares que prestam o mesmo serviço a preços bem abaixo do mercado.

Outro modal de transporte conhecido como “bondinho”, também sofre com o abandono e a privatização. O tradicional “bondinho de Santa Teresa” foi abandonado até causar um grande acidente com mortos em 2011, hoje opera de forma limitada. Já o VLT (outra sigla em inglês), um moderno bonde elétrico que corta a região central da cidade, tem uma passagem cara e um circuito pouco eficiente. Recebeu milhões em investimentos públicos, para ser entregue a iniciativa privada.

Ainda na área do transporte, sobre a circulação de cargas, a cidade do Rio de Janeiro passou nos últimos 5 anos a ser um dos destinos mais perigosos para os caminhoneiros devido aos sucessivos assaltos a cargas. Com conexão direta com a BR-116, BR-040 e também próxima da BR-101 a cidade do Rio de Janeiro sofre por não ter uma malha ferroviária moderna e veloz que possa transportar toda a demanda de carga entre Rio de Janeiro e São Paulo de uma maneira eficiente e segura, eliminando assim assaltos e acidentes.

Desde 1992, com sucessivos governos neoliberais a frente da prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, que os cariocas vêm sofrendo com preços altos e qualidade duvidosa nos serviços de transporte. Apesar de denominado de Transporte Púbico, o serviço de transporte de passageiros na cidade é operado por empresas privadas que tem a máxima do lucro como objetivo principal. Esses empresários passaram a acumular fortunas, prestando um péssimo serviço, cobrando uma passagem cara e remunerando mal seus funcionários.

As concessões que recebem como beneficie de governantes inescrupulosos, mantem o perverso jogo político do “é dando que se recebe”, nesse sentido, o péssimo serviço que o empresário presta, não é fiscalizado, contanto que ajude o governante prevaricador em sua campanha em época de eleição. Nesse sentido, o ciclo pernicioso de governantes e empresários lucrando com a desgraça do povo se eternizam.

Precisamos urgentemente de uma nova Revolta da Cantareira!

* João Claudio Platenik Pitillo, Pesquisador do NUCLEAS-UERJ. Doutorando em História Social pela UNIRIO. Colaborador do site TRIBUNA DA IMPRENSA Sindical.