ALCYR CAVALCANTI -
Com o aumento dos índices de violência em proporções jamais vistas, o Ministro Raul Jungman, da Defesa, resolve atender aos apelos da população do Estado do Rio de Janeiro que não suporta mais sofrer assaltos, estupros, sequestros e ter de conviver com a criminalidade sem nada poder fazer. Uma comitiva saiu do Rio composta pelos governador, vice-governador, presidente da Câmara e outros menos votados para pedir pela centésima vez uma ajuda do governo federal para mais um combate ao crime. Na prática foi um atestado da falência total da segurança pública, que já não funcionava plenamente em toda a cidade, mas que conseguiu manter uma aparência fugaz durante algum tempo, com a única finalidade de atrair turistas em função dos megaeventos.
Com a prova da ineficácia das Unidades Pacificadoras-UPP que só vieram trazer um cinturão cirúrgico de segurança ao tentar isolar do resto da população determinadas favelas denominadas "Zonas Vermelhas" que deram uma efêmera sensação de segurança, mas durante muito pouco tempo. Aos poucos a pacificação prometida, foi ficando cada vez mais distante, com a não realização da segunda fase das unidades, a implantação da chamada UPP Social, que nunca saiu do papel, embora o prefeito Eduardo Paes e secretários tenham recebido em Medellin um prêmio pelo êxito do programa. Na prática um grande engodo. Cansado de na prática enxugar gelo, pois a política de segurança tem sido voltada somente pelo combate ao narcotráfico, conceito que vem desde a "Guerra Contra as Drogas" implantado pelo presidente Reagan, há algumas décadas, mas que tem sido um retumbante fracasso, onde o número de mortes na "guerra" e o aumento do consumo de drogas não conseguiram em nenhum lugar reduzir os índices de violência.
No Estado do Rio de Janeiro, em especial na bela cidade de São Sebastião, a bandidagem anda à solta e faz o que bem entende. Se o crime altamente desorganizado de nossa cidade era quase incontrolável, agora com a entrada em massa do Primeiro Comando da Capital-PCC em aliança com a rede criminal Amigos dos Amigos-ADA veio trazer uma escalada de situações de conflito de sangue entre as redes criminais que combatem entre si dia e noite pela posse de território. Essa situação de intensos combates diários tem como resultado mortes em série de moradores, de crianças dentro e próximo à escolas, de narcotraficantes e de um número jamais visto de policias assassinados, estando ou não a serviço. Até o momento em que escrevo essas linhas já são noventa. O tráfico imita o Estado, até porque faz em nosso sistema parte do Estado, infelizmente. Da mesma foram que cartazes exibem recompensa pela captura de delinquentes, o crime também distribui prêmios pela morte de policiais. O lema "Traga-me a cabeça de um PM" está a ser usado pelo crime desorganizado, situação inimaginável, mas estamos como naquela selva urbana do magistral filme de Sam Peckinpah "Traga-me a Cabeça de Alfredo Garcia".
Para tentar resolver o caos urbano desembarcam na cidade centenas de homens das Forças Armadas e da Força Nacional para tentar retirar da antiga "Cidade Maravilhosa" o título de "Rio de Janeiro Terra sem Lei". Infelizmente, como em outras ocasiões a paz e harmonia vão ser momentâneas. Nós já vimos este filme. A "Guerra Contra as Drogas" vai continuar, assim como a violência urbana.