18.7.17

CORPORATIVISMO E EXTRATIVISMO

HÉLIO DUQUE -


O grande problema brasileiro é a predominância de uma elite inculta e extrativista, disseminada em todo o quadrante da vida nacional. Está presente e determinando rumos na condução do Estado nacional. Na política, na economia, no sindicalismo e até nos chamados movimentos sociais. Não tem interesse e formação, por conveniência, para enxergar as potencialidades de desenvolvimento do País. Enxergam unicamente a árvore dos seus privilégios corporativos. Reformar o estado, modernizando-o, é defendido demagogicamente por quase todos os segmentos da sociedade. Desde que essas reformas não atinjam os seus mais diretos interesses. Assim é na política, na economia e amplos setores sociais. Não é portando paradoxal que nos últimos anos o poder econômico tenha controlado e financiado os poderes do executivo e legislativo. A captura do Estado pelo poder econômico produziu a crise vivente, onde a grande vítima é o povo brasileiro.

A manipulação da sociedade pelas diferentes corporações é a estratégia que unifica os vários interesses. No mundo político, empresarial, no sindical e afins, consolidando original aliança do capital e do trabalho. Usando um vetor ideológico, as corporações de direita, como definiu o economista Renato Fragelli, “querem um Estado grande para que ele seja saqueado pelo patrimonialismo.” E continua: “enquanto a esquerda quer um Estado grande, para que seja saqueado pelo corporativismo”. É essa poderosa aliança de patrimonialismo e corporativismo que impedem a Reforma do Estado. A inoperância das elites brasileiras em enfrentar essa realidade, tem nas instituições do Estado, em todos os níveis, formidável aliada. A maioria dos integrantes dos três poderes republicanos são resistentes às reformas estruturais do Estado.

A “pilhagem” do Estado, as iniquidades sociais e ineficiência econômica tem nessa esdrúxula aliança o grande núcleo de sustentação. Impedindo a construção de um Brasil desenvolvido e solitário. Gerando a desigualdade social, a cidadania incompleta e a personalização das relações das suas elites. No livro “Arcaismo como Projeto”, o historiador e professor Manolo Florentino, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, constata: “Os países são aquilo que suas elites querem que sejam. Logo, embora fruto de muita adaptação ao imponderável, reproduzir-se por meio de imensa diferença social parece ter sido um projeto exitoso no Brasil”.

O lúcido empresário Pedro Luiz Passos, pensador do futuro, diagostica: “Na estrutura da economia brasileira, constata-se que o setor extrativista, dedica-se a extrair renda da sociedade à custa de artifícios”. Realidade traduzida pelo economista Rogério Werneck, da PUC-Rio: “O segredo da prosperidade é estabelecer sólidas relações com o Estado. Vender para o Estado, comprar do Estado, financiar o Estado, ser financiado pelo Estado, apropriar-se do patrimônio do estado, receber doações do Estado, repassar riscos para o Estado e conseguir favores do Estado.” Não sendo único exemplo, a JBS é um retrato sem retoque dessa realidade. É um capitalismo atrasado e fecundador da corrupção que alimenta as elites do poder e dos negócios, ignorando a opinião pública.

Em 1989, o saudoso amigo e senador Mário Covas, candidato à presidência da República, em histórico pronunciamento à nação, proclamava que o Brasil precisava de um “choque de capitalismo moderno”. Quase três décadas depois a sua convocação continua atualíssima. Naquela eleição o candidato que dizia ser “caçador de marajás” e o outro que combatia as “maracutaias do poder”, polarizaram o debate nacional. As questões estruturais dos gargalos que impedem a decolagem do País, para um desenvolvimento sustentável com justiça social, foi remetida para as calendas gregas. Agora, às vésperas das eleições gerais de 2018, resta indagar: “O governo a ser eleito será diferente e melhor do que os de passado recente?” A resposta deve ser dada pela mobilização da sociedade.

Ante esse cenário, recorro ao sociólogo e pesquisador em Ciências Sociais, Zander Navarro: “A inacreditável indigência que caracteriza as nossas elites, seja no tocante ao seu minúsculo estojo cultural ou, então, em relação a sua própria incapacidade decisória. Todas elas, da política à empresarial, da educacional à estatal, da Justiça à científica”. É nessa conjuntura adversa que os brasileiros irão às urnas em 2018. Alimentado a esperança de mobilização da sociedade consciente para reverter essa realidade. Ou não?

* Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual Paulista (UNESP). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros sobre a economia brasileira.