10.6.17

CANTA PRAS RENDEIRAS, MANGUEIRA!

LUIZ ANTONIO SIMAS -


O ofício das rendeiras, difundido a partir do final da Idade Média na Europa Ocidental, chegou ao Brasil no período colonial, certamente a partir da colonização portuguesa, espraiando-se sobretudo ao longo do vasto litoral brasileiro a partir do século XVII.

Enquanto na Europa o ofício era praticado por moças das camadas mais abastadas da sociedade, aqui acabou se popularizando e se entranhando na cultura popular com grande intensidade, permanecendo como tradição dinâmica que passa entre mulheres da mesma família, em um enlace de saberes minuciosos e matriarcais exercidos de forma coletiva.

Existem diversos tipos de renda, divididas em duas formas mais amplas de técnica de trabalho: os bordados feitos com bilros (peças de madeira com tamanhos e formas variáveis) e os confeccionados com agulhas.

Nos bilros, são enroladas as linhas que serão usadas para fazer a renda. O desenho do bordado é feito picado em papelão, espetado em uma almofada com alfinetes (em outros tempos, os espinhos eram até mais utilizados com este fim, para impedir que a maresia enferrujasse os alfinetes).

Dentro dessa grande divisão entre as peças feitas com bilros ou agulhas, vários estilos de renda são encontrados no Brasil: renda filé, renda renascença, renda irlandesa, renda labirinto, etc.

A complexidade do artesanato das rendeiras se manifesta também na existência de inúmeros pontos de bordado. São mais de 100 pontos diferentes, com denominações curiosas: ziguezague, trança, coração, escadinha de Cupido, aranha, mataxim, etc.

O ofício das mulheres rendeiras se faz presente ainda hoje, com muita força, em cidades como João Pessoa, Ingá e Serra Redonda (Paraíba); Divina Pastora (Sergipe); Jataúba (Pernambuco); Florianópolis (Santa Catarina); Fortaleza e Aquiraz (Ceará); Arraial do Cabo (Rio de Janeiro); Morro da Mariana (Piauí); Maceió (Alagoas); e diversas outras.

Esse é o Brasil de delicadezas miúdas que, nas bordas do horror, faz da beleza uma alternativa de vida e acolhimento de mundo.

(trecho do meu 4° "caderno de apontamentos de brasilidades para abrandar o mundo")

Canta pras rendeiras, Mangueira! (via facebook)