Por PAULO METRI -
São vários os critérios de julgamento de qualquer candidato à inclusão na galeria dos heróis nacionais. Amar o povo brasileiro, de onde emergiu, é o primeiro critério e, também, o único eliminatório. Se passar nele, pode continuar sendo julgado pelos demais, que ajudam a classificar o candidato. Só quem ama sua sociedade pode vir a ser um verdadeiro herói nacional.
O herói deve priorizar o atendimento aos mais fracos da sociedade. Precisa ser justo e não pode proteger seu pequeno grupo em detrimento do conjunto da sociedade. Nunca o herói participaria de qualquer uma das bancadas econômicas existentes no Congresso, se lá estivesse, esquecendo-se de quem lhe deu os votos.
Um herói não é corporativista, se bem que é preciso entender que as associações de classe, tanto sindicais quando patronais, são corporativistas, mas necessárias. Elas desempenham papéis fundamentais dentro da luta democrática.
De forma espontânea, o herói é “politicamente correto”. Ele não precisa se esforçar para bloquear a aparição do seu verdadeiro eu. No seu caso, o que vem à tona é um ser sensível às causas sociais, disposto a lutar para melhorar as condições de vida dos mais necessitados. O herói é um autêntico.
O herói precisa ser corajoso. Na maioria das vezes, para proteger os mais fracos, ele terá que enfrentar poderosos. E não pode esmorecer, pois o acumulador de riqueza e poder, que é o vilão opositor do herói, nunca dará trégua. O vilão, que pode ser nacional ou estrangeiro, dispondo de sua vilanagem, usará os métodos mais sujos para desmerecer a imagem do herói perante a opinião pública. Neste momento, o herói deve mostrar sua fibra.
Não seria preciso dizer, por ser corolário de afirmação anterior, que o herói tratará com maior zelo tudo que é público, inclusive o recurso público. Não precisa ser um requisito obrigatório, mas ajuda muito o herói ser criativo, porque o poder dos inimigos da igualdade social e dos direitos das minorias, os vilões, é imenso.
O herói não visa o reconhecimento e a glória. É humano querer se sentir aceito, mas o herói compreende que, em uma população carente, inclusive de informações fidedignas, a falta de aprovação pode ser somente devido à não compreensão da situação.
Trazendo nova linha de argumentação, com a Lava Jato, a Justiça entrou em uma frenética caçada às bruxas. Em primeiro lugar, segundo esta operação, o único critério de julgamento dos investigados se relaciona com a corrupção, o que é compreensível. No entanto, o que não faz sentido é o uso desta caçada de forma sensacionalista, tendenciosa e despudoradamente política. Por outro lado, a própria definição de corrupção não é fácil de ser obtida consensualmente, pois abrange desde trazer um grampeador do trabalho para casa até, sendo agente público, aceitar suborno de empresa privada, passando por corromper um guarda ou esconder informações da Receita Federal. Donde se conclui que 99% dos humanos, em algum momento da vida, foram corruptos.
O que tem acontecido é o cidadão ir para esta fogueira da Inquisição moderna, recebendo um julgamento parcial, pois depende, dentre outras coisas, do partido ao qual o suspeito pertence. O fato de nada mais importar para o juiz Moro e os procuradores do Ministério Público, além da corrupção, lembra muito o guarda da esquina, que objetiva somente melhorar o tráfego de veículos na sua esquina, enquanto o objetivo desejado é a otimização do tráfego na cidade inteira. E, para melhorar este tráfego global, pode ocorrer que a esquina do guarda em questão deve ficar engarrafada. Assim, Moro e os referidos procuradores não são heróis, até porque dão subsídios para campanhas midiáticas que são desserviços para a democracia brasileira. Esta é a visão amena do juiz Moro e dos procuradores, porque foram excluídas as acusações de serem agentes de governo estrangeiro visando o domínio político do país e o consequente roubo das nossas riquezas.
Uma vez dito quem não é herói, o herói nacional homenageado neste artigo é o servidor público brasileiro. É aquele que está na Embrapa e ajuda o Brasil a aumentar continuadamente sua produção agrícola. Está certo que ajuda também ao agrobusiness a ter lucros fabulosos, mas tem sido primordial para o Brasil acumular divisas. É aquele que está em hospitais e postos públicos de atendimento médico, inclusive com poucos recursos materiais, minorando o sofrimento da classe mais pobre da sociedade.
É aquele que está em plataformas de petróleo lutando para o Brasil continuar sendo autossuficiente em petróleo. Antes que comecem a argumentar que ainda não somos autossuficientes, peço que se lembrem de que, em 1979, o Brasil só produzia 15% do petróleo que consumia. Considerei funcionário de estatal como um servidor público também. Continuando com os exemplos que explicam porque os servidores são heróis, é lembrado o professor de escola ou universidade pública que, por amor à sociedade e à profissão, pois a remuneração é pífia, busca transmitir conhecimentos e visões do mundo para os jovens brasileiros.
É também o projetista e construtor de aviões da Embraer que coloca o produto brasileiro em quase todos os céus do mundo. São os pesquisadores da Fiocruz e de outros centros de pesquisa brasileiros que se preocupam em buscar a cura das doenças de países pobres, que as multinacionais farmacêuticas se recusam a pesquisar.
São todos os cientistas e pesquisadores nacionais, que, em alguns casos, rejeitam ofertas de emprego no exterior, com fartos recursos, para pesquisarem na sua terra natal. É aquele militar que coloca a sua própria vida à disposição da defesa da Pátria. Cabe comentar que querer chegar ao poder pelo menor vislumbre de dano à ordem pública não faz parte de nenhuma cartilha do verdadeiro herói. O militar herói não cede ao canto de sereias que pedem uma ruptura democrática, em geral de sereias de direita.
É também aquele que se dedica a viabilizar projetos culturais no país. São todos homens e mulheres públicos, que se colocam realmente à disposição da sociedade para ajuda-la. Enfim, se trata deste exército de seres humanos anônimos, todos servidores públicos e muitos dos quais se realizam ao trazer benefícios para outros brasileiros, principalmente os menos afortunados da sociedade.
Tem um ponto que é gratificante para alguns servidores públicos. Imaginem dois trabalhadores, que se aposentam na mesma época, um no serviço público e o outro de uma empresa privada. Ambos tiraram dos seus empregos os seus sustentos, durante suas vidas. Contudo, além disso, o do setor privado, apesar do produto ou serviço da empresa em que trabalhava ter alguma utilidade social, vê como consequência do seu esforço, despendido durante anos, uma contribuição para o acúmulo de riqueza do dono da empresa. O empregado do setor público vê os seus anos de trabalho como uma contribuição para o aumento do bem-estar da sociedade.
E o tratamento dado pela sociedade ao herói servidor público? Creio que dá um reconhecimento quase nulo.
* Enviado para o e-mail da redação. Paulo Metri é conselheiro do Clube de engengaria/Blog do autor: http://paulometri.blogspot.com.br