LUIZ ANTONIO SIMAS -
Quero mesmo um verão capaz de sacudir a economia carioca, de fazer a Refrigeração Cascadura, de tanto ventilador e ar condicionado vendidos, ter ações em alta na bolsa de Tóquio e os cacetes. Quero um verão em que a fábrica das piscinas Tone, na Rua Tibagi, em Bangu, receba mais peregrinos que a cidade sagrada de Meca no mês do Ramadã e Juazeiro do Norte no aniversário do Padre Cícero.
Rezam as sagradas escrituras cariocas que houve um verão em que esquentou tanto em Bangu, com temperaturas batendo todo dia quarenta e tantos graus, que correu o boato de que até o cabrunco se empirulitou e foi tomar uma fresca em Marechal. A Tone não poderia ficar em outro bairro.
Dizem que foi em Bangu, ou terá sido na Fazenda Botafogo?, que ocorreu fato inédito em uma curimba quando um médium recebeu Seu Zé Pelintra. Até aí tudo em ordem; o fato é corriqueiro. Quando o cambono foi, porém, trazer as roupas de Seu Zé — terno branco, lenço de seda, chapéu panamá, sapato bicolor e outros salamaleques — o malandro mandou na lata:
— Não vou vestir isso nesse calor de forma alguma. Eu queria era virar estátua de Seu Tranca Rua, só de tanga e tridente.
Dito isso, Seu Zé ameaçou fazer strip-tease e ficar só de cueca. A intervenção firme da mãe de santo contornou a situação e convenceu o malandro a pegar leve.
Um dia ainda conto em detalhes a história, absolutamente verídica, do dia em que o Manoelzinho Motta, na época morando em Inhoaíba e diante de um calor pesado e sem ar condicionado em casa, foi pro Centro da cidade e resolveu dar um migué de defunto anônimo para passar algumas horas se recompondo na congelante sala de reconhecimento de corpos do Instituto Médico Legal.
A simulação da morte do Motta, num piripaque na porta da Paulistinha (foto), na Gomes Freire, é cena de antologia, digna dos maiores prêmio de atuação. Adianto que tudo terminou na 5a D.P., com oito detidos, dentre eles o malandro.
Este futuro verão abrasador haverá de derreter a cúpula da Candelária. Suaremos, sentiremos o futum dos suvacos alheios, cantaremos o ‘alalaô’, atravessaremos o deserto do Saara e compraremos calções de banho na Rua da Alfândega, é claro.
Esse meu entusiasmo todo com a canícula tem lá uma razão, mesquinha, menor, minúscula, de ser: Sérgio Cabral, um sujeito que tinha até privada japonesa climatizada, está em Bangu. A dona Anselmo, rainha das jóias que fazia duas viagem por semana pras europas, está curtindo os ares de Gericinó, também conhecidos como o bafo louco de Satã.
É só isso.