JOSÉ CARLOS DE ASSIS -
O fato político mais relevante deste início de ano será a eleição do presidente da Câmara dos Deputados. Isso desobstruirá o caminho para a renúncia ou destituição de Temer. Claro que Rodrigo Maia, carimbado pela Lava Jato e por suspeitas de outros crimes, não tem moral para continuar num cargo que o elevaria à Presidência da República, mesmo que temporária. O presidente da Câmara, constitucionalmente, é quem ocupará a Presidência da República deixada vaga para se convocar eleições presidenciais indiretas em curto prazo.
Acredito que o melhor candidato na Câmara é o jovem deputado Leonardo Quintão. É do PMDB, partido majoritário, mas teve a coragem de disputar a liderança do PMDB na Câmara contra o arqui-corrupto Eduardo Cunha, hoje na cadeia. Perdeu, mas ficou como vice-líder, cargo que ocupa no momento. Sua quase vitória é a maior prova de que Cunha não comprou todo mundo na Câmara, e que há, entre os liderados de Quintão, gente que não se vendeu ao esquema de corrupção que quase controlou o PMDB inteiro e a Câmara.
Minha preocupação maior, na medida em que o caminho na Câmara seja desobstruído para a renúncia ou deposição de Temer, é com as repercussões no mundo real para a população no período intermediário até a eleição do sucessor. Afinal, estamos no fundo do poço em termos de desemprego e contração do PIB. E é nisso, justamente, que a ação de Leonardo Quintão pode ser um fator extremamente positivo. Ele dispõe de um plano econômico de emergência que pode ser aplicado já, no tempo intermediário até a eleição.
Como sei disso? Porque vi o plano. Aliás, eu ajudei a elaborá-lo, a pedido do senador Roberto Requião e do senador Lindberg. Requião e Lindberg, por sua vez, poderiam ser uma âncora decisiva no Senado para a efetivação do plano em coordenação com o presidente da Câmara, feito presidente provisório da República. Vários problemas poderiam ser resolvidos simultaneamente: a questão institucional e a questão econômica. Ficaria para ser resolvida, no mesmo movimento, a questão do novo Presidente da República até 2018.
Isso não é produto de um sonho. Eleger Leonardo Quintão presidente da Câmara não é tão difícil. Basta a união da parte decente do PMDB com a de outros partidos, notadamente do PT. Isso, por outro lado, seria base para o início da construção de uma nova realidade política brasileira mediante a unidade de forças progressistas e nacionalistas, por cima de questões ideológicas e partidárias, a meu juízo artificiais. A vantagem maior é evitar que a crise institucional, já levada a estágios extremos, se transforme em intervenção militar.
Quanto à presidência do Congresso e a presidência complementar da República, deveria seguir os mesmos critérios da Câmara: personalidades, ou uma mesma personalidade que tenha uma biografia absolutamente limpa e que não tenha qualquer comprometimento com a lama da Lava Jato. Do futuro presidente deve-se esperar também autoridade bastante para conduzir o processo inevitável de limpeza do Executivo, do Legislativo e do Judiciário, usando para isso, plenamente, a autoridade que se espera inatacável da Presidência.
Esse novo Presidente – e aqui vai meu sonho, não propriamente uma análise – deve ter competência e experiência suficientes para tirar o Brasil do buraco profundo em que se encontra fora do estúpido receituário neoliberal a que nos levou a dupla Temer/Meirelles. As circunstâncias internacionais, como já disse em outros artigos, são extremamente favoráveis. Os Estados Unidos caminham para o resgate do capitalismo produtivo e os BRICS são também um caminho favorável para escaparmos da asfixiante estrutura financeira ocidental. Assim, um Feliz Ano Novo está mais ao alcance de nós do que parece.