CARLOS CHAGAS -
De tempos imemoriais vem a observação de que muitas vezes o dia seguinte consegue ficar pior do que a véspera. Com todo o respeito, é o caso dos procuradores da operação lava-jato, que ameaçam suspender as investigações contra a corrupção e os corruptos, abandonando o trabalho a que se dedicam faz tempo.
Entende-se a exasperação dos doutores, até agora responsáveis pela mais importante ação de combate à roubalheira desenfreada. A Câmara dos Deputados demoliu projeto de inspiração dos procuradores, dez postulados que dariam mais eficiência à caça aos bandidos de colarinho branco. Em nota oficial, eles classificaram a votação da madrugada de quarta-feira, pelos deputados, de “golpe mais forte desferido contra a lava-jato em toda a sua História”. Caso o Senado também se manifeste assim, e se o presidente Michel Temer sancionar a aberração, os procuradores renunciariam coletivamente à missão desempenhada.
Quer dizer, os envolvidos nos crimes contra o patrimônio público celebrariam. Ficariam felizes por evitar as punições. Demonstrariam que roubar vale à pena. Que o crime compensa.
Trata-se de um erro fundamental, capaz de implodir o Ministério Público. De desmoralizar a nobre função de defesa da sociedade.
Os procuradores certamente deixaram-se influenciar pela emoção. Viram seu esforço fracassado por conta da ação de deputados empenhados em escapar da cassação de seus mandatos. Mais uma página de vergonha escrita pela quadrilha dos que já deveriam estar na cadeia.
Caso o Senado e, depois, o presidente da República, pratiquem o mesmo escândalo, a única saída para os procuradores seria redobrar seus esforços nas investigações e nas denúncias, aguardando as iniciativas da Justiça. O objetivo final é a punição dos meliantes, afastados e se possível, presos. Não há fator que justifique a omissão. Renunciar, nunca.