1.8.16

POESIA: TARADOS-SURFISTAS

MARCELO MÁRIO DE MELO -



TARADOS-SURFISTAS
Tarado faz porque gosta
correndo todos os riscos
e sempre reincidindo
com modos retos e ariscos
empreendendo seus planos
por vendavais e chuviscos.
Surfista está todo tempo
com a sua prancha na mão
olhos atentos à onda
no vai e vem sim e não
esperando a hora certa
de surfar com decisão.
Pois aprendamos com eles
essa obstinação
sendo tarados-surfistas
enfrentando a exploração
fazendo porque gostamos
de plantar transformação.
Tarados na luta firme
por teto terra e trabalho
saúde e educação
povo não é rebotalho
também cultura e lazer
nas cartas do seu baralho.
Tarados no enfrentamento
dos restos da ditadura
abertura dos arquivos
réus por crime de tortura
justiça mesmo tardia
para lavar a amargura.
Tarados denunciando
a ditadura da mídia
junto ao agronegócio
destilando gosma ofídia
com banqueiros e pastores
no tempero da insídia.
Tarados dizendo não
a racismo e homofobia
preconceito e abuso
nas teias do dia a dia
porque a vida é plural
e o sol a tudo alumia.
Tarados para mudar
a vida republicana
da trama dos três poderes
tirar o que nos esgana
na moenda popular
fazer bagaço de cana.
Tarados pra renovar
nossas representações
de sindicato a partido
retirar todos senões
diretório e ONG
na capital nos rincões.
Tarados para enfrentar
a febre eleitoreira
dança numa perna só
da política brasileira
que esquece o alicerce
fica só na cumeeira.
Tarados para acender
a fogueira popular
mobilizando a base
muitos fios a enlaçar
unindo todas as águas
num só rio correndo ao mar.
Tarados sim e surfistas
seguindo com paciência
mas sem acomodação
corpo mole e indolência
os pés muito bem plantados
na prancha da coerência.
Surfar sem prazo pequeno
cortado a tempo de vida
porque o colar da história
tem grandeza incontida
cada vida é uma conta
o colar é sem medida.
Tarados e bons surfistas
regando nossos canteiros
na ciranda popular
cuidadosos companheiros
em nossas frentes de luta
envolventes e certeiros.
Nossa luta continua
permanente e desigual
nas teias dos oprimidos
numa esperança global
construindo alternativas
às malhas do capital
Tarados e bons surfistas
por sobre teres e haveres
“à opressão não mais sujeitos
somos iguais todos os seres
não mais deveres sem direitos
não mais direitos sem deveres”
Aprendendo com os erros
mirando o fundamental
“bem unidos façamos
nesta luta final
numa terra sem amos
a internacional.”