ALCYR CAVALCANTI -
Pela segunda vez, em menos de dois anos o repórter fotográfico Sergio Silva foi considerado culpado por simplesmente ter exercido sua função de registrar situações sociais através de imagens. Foi atingido por no olho esquerdo por projétil de borracha por um agente da Policia Militar do Estado de São Paulo durante as manifestações de protesto contra o aumento de passagens em transporte público em 2013. O traumatismo causou fratura da órbita e afetou sua visão, órgão essencial para o exercício de sua atividade funcional. As autoridades continuam a denominar esse tipo de armamento como "não letal", embora tenha havido vítimas fatais e deveria ser considerado como "de baixa letalidade" conforme recomendação da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, conforme audiência publica em São Paulo (2013) em Seminário sobre "Violência Contra Jornalistas e Comunicadores" do qual participei em um Grupo de Trabalho representando a Associação Brasileira de Imprensa.
Em 26/09/2014 o desembargador Vicente de Abreu Amadei absolveu o Estado de qualquer responsabilidade pelo "tiro não letal" que acabou com a visão do olho esquerdo do fotojornalista Alex Silveira que cobria uma manifestação de professores na Avenida Paulista em 18/07/2000. Em agosto foi a vez de Sergio Silva ter tido sua condenação assinada pelo juiz de primeira instancia Olavo Zampol Junior. Foi condenado por ter "culpa exclusiva " pela própria cegueira. Sergio, assim como muitos profissionais estavam registrando os protestos no Centro de São Paulo contra aumento abusivo de tarifas de transporte.
Sergio Silva declarou "Antes de ser o fotógrafo que perdeu o olho sou um ser humano mutilado pela Policia Militar. O órgão que perdi não era essencial apenas para minha profissão: Era essencial para minha vida. A decisão é mais uma demonstração que o Estado defende apenas seus próprios interesses _ e de que esses interesses definitivamente não são os mesmos interesses da cidadania. O que fazer diante de tamanha injustiça?" declarou Sergio.
A truculência policial durante as manifestações de protesto nas principais capitais do país, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro tem mostrado nitidamente um despreparo policial que pode levar a uma escalada de violência a níveis intoleráveis. Jornalistas e comunicadores tem sido ameaçados pelo aparato repressivo durante manifestações populares, embora estejam somente cumprindo a tarefa de informar. Causa surpresa que um Estado que se diz "democrático e de direito" fique agindo como nos tempos da ditadura, onde tudo era proibido, principalmente o direito à informação, um dos pilares da democracia. É inadmissível que profissionais em seu legítimo direito tenham sido vitimados pelos excessos do aparato repressivo que só sabe agir em situações de conflito partindo para o confronto, com máquina de guerra e usando força desproporcional contra cidadãos desarmados.