HELIO FERNANDES -
Dona Dilma entrou no plenário ás 9,20. Mas só começou a falar ás 10. Os 40 minutos foram gastos em formalidade A chegada dela, na entrada do Senado, escassos mil participantes. Mais interessados em fotografar do que apoiar. Subiu, recepcionada pelo senador Renan Calheiros. E depois pelo presidente do supremo, que abriu a sessão, e deu as ultimas instruções.
Nenhum senador dito governista, perto dela, se aproximou para um cumprimento, mesmo que fosse uma inclinação de cabeça. Falta de educação completa. Mas apesar de terem garantido os 60 votos, principalmente dos "indecisos", estavam assustados. Nunca houve indeciso, todos cuidavam de merecer a atenção do presidente provisório, já transformado em efetivos.
Enquanto a presidente afastada, continuavam monotonamente, senadores tentavam justificar o injustificável: as razões que os levaram a paralisar o país por mais de 1 ano, para garantir a usurpação. E complementar a promoção do vice a interino ou provisório. E nas próximas 72 horas, elevá-lo a efetivo. À espera da decisão final do TSE. Que pode demorar, e está demorando mesmo. Mas virá.
Senadores a favor do impeachment, procuravam se explicar, falando "em nome do povo e do país". Cássio Cunha Lima, líder (?) do PSDB, repetitivo: "O que me preocupa é o sofrimento de 12 milhões de desempregados. È a inflação roubando o salário de todos. È a incompetência da presidente e de sua equipe". E vibrava com ele mesmo e seu espírito publico.
Garibaldi Alves, 4 anos Ministro da Previdência, deixando o órgão falido, em plena tragédia e catástrofe, dificilmente recuperável, mostrou toda a elementar mediocridade. Textual: "Fui MInistro dela durante 4 anos, não me recebeu uma única vez". Ele completa: "Por causa disso, votarei pelo impeachment". Sem comentários.
Todos se dirigiam a Dilma de forma errada, SENHORA PRESIDENTE. Incluindo Renan e Lewandowski. Ela não é mais presidente. Acabou de falar seus primeiros 30 minutos. Foi vaiada pelas galerias. Imediatamente, Lewandowski interrompeu, declarando acertadamente: "Não são permitidas vaias ou aplausos. Se continuarem, mandarei esvaziar as galerias".
Vários senadores, tentavam "reforçar" alegações, com dados pessoais, contestáveis. Senadora Ana Amelia: "Falo, honrada, em nome dos 6 milhões que confiaram em mim, e me elegeram". Isso já foi contestado, esses mesmos eleitores se recusaram a elegê-la governadora. Nem deveria estar no Senado. È uma representatividade falsa.
Na primeira fase dos trabalhos, Roberto Requião, fez, disparado, o melhor discurso. Tendo no currículo vário mandato e de senador ou governador, e jamais acusado em nenhuma espécie de Lava-Jato, não acusou nem defendeu Dona Dilma. Rigorosamente textual: "Critiquei duramente a política econômica do seu governo. Hoje estou aqui para defender a democracia, e conseqüentemente, impedir que se cometa um absurdo".
E ai, Requião aproveitou seu tempo, para construir um libelo contra o esdrúxulo e extravagante sistema politico-partidario-administrativo, que é ao mesmo tempo, PRESIDENCIALISTA e PARLAMENTARISTA. Deu dados e números sobre o absurdo dos que não percebem ou não querem perceber, que é impossível qualquer um, governar, se esse regime não for definitivamente substituído. Será impossível conviver com a duplicidade de formas.
Em 1963, houve um obrigatório plebiscito para decidir. O Presidencialismo teve votação arrasadora. A questão não é nem pessoal, é totalmente partidária. Mas como a modificação tem que ser feita pelo congresso, e a política foi substituída pela politicalha, nada será modificado. E os partidos sem representatividade, irão se multiplicando. Garantindo o dinheiro do fundo partidário e do horário de radio e televisão, "gratuito".
Em poucos minutos, Requião explicitou o que eu venho pregando e defendendo ha mais de 20 anos: o fim desse estranho sistema presidencialista-parlamentarista. Se não houver modificação substancial, se repetirão muitas vezes, os impeachments políticos, farisaicamente identificados como jurídicos.
Inacreditável, que nestas primeiras 5 horas, apenas o senador Requião tenha atingido frontal e fundamentalmente a profundidade do problema. O resto, tempo perdido. Os que defendem o impeachment, cansativos e sem criatividade. Repetindo que houve crime de responsabilidade, que identificam como "pedaladas".
Os que são contra o impeachment, igualmente inoperantes, defendem a presidente. Mas não conseguirão nada. Como a questão é política, serão em todas as sessões, 20 senadores contra 60. O que acontecerá, inevitavelmente, na quarta ou quinta feira.
Até a sessão ser suspensa para o almoço, ás 13 horas, perguntas monótonas, respostas obrigatoriamente monótonas. Impossível destacar um senador ou senadora, que colocasse alguma coisa que merecesse pelo menos raciocínio ou comentário. Requião, que deu grandeza ao espetáculo, não fez pergunta. Localizou o erro do sistema, apresentou a solução. Não defendeu nem atacou ninguém. Embora tenha combatividade para isso.
Ninguém lembrou dos vários pedidos de impeachment contra o presidente. FHC. Todos políticos. O PSDB, que hoje apóia decididamente o impeachment, quer esquecer esse momento difícil enfrentado pelo seu único presidente. Depois, quatro presidenciáveis, todos derrotados. FHC foi salvo por Michel Temer e Renan Calheiros. Este surpreendentemente, feito Ministro da Justiça. Temer era presidente da Câmara, apesar de suplente. Hoje, os três, ferrenhos defensores do impeachment político.
FHC deveria ter sofrido o impeachment, por incompetência. Quando elevou os juros a 40 por cento, dando prejuízos colossais ao país. Hoje o juro (Taxa Selic) está em 14,25, a gritaria é geral. Dilma não fez nada. Temer também não. Mas o seu presidente do Banco Central, garante, "neste 2016 a Selic não será reduzida".
FHC deveria sofrer o impeachment indispensável, por muitos motivos. Doações do patrimônio publico com moedas podres. Comissão de Desestatização, um escândalo. Reeleição em beneficio próprio, crime de lesa pátria. (Continuaremos).