Por KIKO NOGUEIRA - Via DCM -
No domingo, 24, correu o mundo a notícia de que a delegação australiana se recusou a se hospedar na Vila Olímpica.
Os atletas chegaram no sábado e encontraram um pequeno Vietnã. O site The Age deu o comunicado dos australianos ao COI, em que as queixas vão de fios elétricos descobertos a banheiros bloqueados e escadarias sem luz.
Torneiras foram abertas e descargas foram dadas simultaneamente, à guisa de “teste de stress”. Água escorreu das paredes acompanhada de um forte odor de gás.
A resposta de Eduardo Paes foi 100% brasileira. A nossa vila, garante ele, “é mais bonita que a de Sydney”. Que beleza, temos Carnaval, temos um Fusca e um violão, sou Flamengo, tenho uma nega chamada Teresa etc etc.
Naquele mesmo domingo, uma outra Olimpíada, impecavelmente organizada, estava sendo desenhada na Globo.
O Esporte Espetacular, principal programa da área na emissora, não deu absolutamente nada sobre o vexame. Jornalistas e apresentadores se dedicaram a cantar as maravilhas da passagem da tocha olímpica pela cidade cenográfica.
Regis Rösing, Cleyton Conservani e mais uma uma moça que berra muito narravam como 2 500 manés eram privilegiados de arrastar seus corpinhos suados naquele território mágico.
Foram 5 quilômetros em que não faltaram efeitos especiais, como um carro atirado para o alto, pegando “de surpresa” o coitado do repórter que fingia estar trabalhando a sério.
Haverá duas versões da Rio 2016: a da Globo e a real. O grupo se apropria dos Jogos como faz com o futebol, a Fórmula 1, o cinema ou a política. Não há grande negócio que não passe pela Globo. O que você pensa que é público, na verdade, tem dono.
Acabam acontecendo situações surreais e a ridícula prova no Projac não é a única delas.
Funcionários globais foram escalados para carregar a tocha. Sandra Annenberg foi apenas a mais patética. Também fizeram parte da festa Glenda Kozlowski, Isabela Scalabrini, Marcos Uchoa, elencos inteiros de novelas. Galvão Bueno, se não foi ainda, irá.
O colunista de TV Flávio Ricco estranhou em sua coluna no Uol: “entende-se que os [contratados] da Band e Record, que também têm os direitos de transmissão, não estão bem preparados fisicamente”.
Recentemente, o ator Henri Castelli esteve no programa de Fátima Bernardes. O assistente de Fátima, um humorista sem graça chamado Felipe Andreoli, apareceu carregando o fogo olímpico com a mulher dele, Rafa Brites.
Fátima falava da cena animadíssima, até que Henri lhe chamou a atenção.
— Mas ele é de Barretos?, perguntou Henri.
— Acredito que não, respondeu ela.
— Por que ele está conduzindo a tocha, então?
— Eu vou conduzir na sexta-feira da próxima semana, dia 29, falou Fátima, desconcertada. Eu escolhi uma cidade próxima do Rio muito por conta das gravações. Mas ele… Eu vou ficar devendo pra você, mas tenho certeza que alguém da produção já deve estar ligando. A gente vai ter a informação. Se não for hoje, mando a resposta amanhã.
Desnecessário dizer que a explicação nunca viu a luz do sol. Fátima e os demais paus mandados não têm ideia clara de por que estão fazendo essa palhaçada.
Que tipo de acerto é esse com o Comitê Olímpico? Qual o protocolo? Qual o critério? Há cachê para os corredores da Globo? O lutador de MMA Lyoto Machida, por exemplo, ganhou 21 mil reais do governo do Pará. O sujeito que apresenta o Jornal Hoje pagou mico de graça? É medo de perder o emprego? É pela pátria? É pela tartaruga do Doutor Roberto Marinho?
Jamais saberemos. A Rio 2016 já está mergulhada na confusão entre jornalismo e entretenimento em que a Globo é especialista. O duro é que nem obrigando os empregados mais ou menos famosos a atuar nesse teatro a coisa empolga.
Metade dos brasileiros não concorda com a realização e 63% acham que haverá mais prejuízos que benefícios com os Jogos, segundo o Datafolha.
E ninguém contava com o auxílio luxuoso do ministro Alexandre de Moraes, uma das cabeças mais brilhantes de sua geração, e sua engenhosa guerra ao terror.