ROGER MCNAUGHT -
A tarde desta quinta-feira foi marcada por mais um ultimato dos estudantes secundaristas da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro à SEEDUC, a secretaria de educação do estado.
Estudantes de diversas escolas ocupadas,
algumas há mais de 40 dias, se dirigiram à sede da SEEDUC no bairro do Santo
Cristo, e ocuparam a sede exigindo que as tão faladas negociações de fato
ocorressem. Não é novidade que o
secretário de educação à todo momento alardeia na imprensa que deseja negociar,
e por conta disso os estudantes foram dar a ele esta chance.
Ao adentrarem o local, os estudantes se
depararam com servidores que imediatamente trancaram o local, e uma assessoria
despreparada para a negociação. Quando a
ocupação foi declarada estabelecida e a imprensa começava a se aglutinar em
frente à SEEDUC, aí sim um dos assessores se reuniu com um grupo de estudantes,
afim de encontrar uma forma de mediar uma futura reunião com o secretário de
educação desde que a ocupação fosse imediatamente dissolvida.
Enquanto isso, policiais militares chegavam
e se acumulavam em frente ao edifício, causando tensão desnecessária ao
ambiente – já em avançadas negociações.
O que não era esperado infelizmente aconteceu e
uma operação da Polícia Militar em uma comunidade próxima deflagrou um intenso
tiroteio que perduraria por horas, causando pânico a todos os presentes:
policiais, imprensa, estudantes e servidores públicos.
Após deliberação dos estudantes e termo de
compromisso de uma reunião com o secretário, o movimento de ocupação realizou
uma assembleia para deliberar os rumos da ocupação no prédio, porém no mesmo
instante, servidores e assessores em outra parte da secretaria falavam
abertamente próximo à imprensa que “não se responsabilizariam pelo que pudesse
ocorrer com os estudantes se permanecessem no local” diante da operação e do
intenso tiroteio, o que de certa forma soou como uma ameaça velada ao movimento
de ocupação.
Alguns grupos ligados a partidos políticos
( a minoria dentre estudantes ) tentou por inúmeras vezes implodir as
assembleias e plenárias da ocupação, causando mal-estar e evitando que decisões
táticas imprescindíveis fossem adotadas – o panorama era claro, se portavam
como sabotadores.
Mesmo com toda a algazarra proporcionada
pelo governo do estado com negociadores incapazes, uma operação policial
próxima com efeitos desastrosos, tensão desnecessária e comentários
ameaçadores, o movimento de ocupação se manteve coeso, finalizando seu
movimento de ocupação saindo da secretaria em ato, com palavras de ordem e
mantendo firme o objetivo de abrir negociações para corrigir as mazelas do
sistema educacional da forma que se fizer necessária.
Vale ressaltar que todo o processo de
ocupação foi acompanhado de perto por um grupo de advogados que, agindo como
indivíduos, se reuniram para resguardar as liberdades e direitos
constitucionais dos estudantes e de todos os presentes – mesmo não havendo
representação formal de qualquer órgão da OAB ou similar.
O
movimento das ocupações estudantis está a cada dia mostrando de forma
contundente a incapacidade do governo do estado em gerir as mais simples
situações de forma madura e política.
Tal desgoverno em lidar com as demandas populares só ressalta a falta de
respeito e a falta de cuidado para com qualquer cidadão, e devemos agradecer e
muito aos estudantes por evidenciarem essa situação que já se configurou como
uma mazela estrutural no atual sistema governamental brasileiro.